por David Areias, em 08.04.13
Tenho neste espaço partilhado pequenos excertos de obras que, não só pelo que julgo ser o seu mérito literário, merecem a sua leitura numa perspectiva política. Ou de cidadania como se soe dizer para evitar que achem que estamos a falar de política.
A palavra é a mais nobre forma de intervenção política. Aqueles que as escrevem têm por isso particular responsabilidade no seu uso. Na sua crónica "O sexo dos anjos", na Ler do último mês de Março, Eduardo Pitta manifesta a sua preocupação quanto a esse uso ou não uso pela nova geração de escritores:
"Vem isto a propósito da aparente abulia política dos novos ficcionistas. Estou a pensar em Rui Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, Alexandre Andrade, Valter Hugo Mãe, Rui Herbon, Rui Manuel Amaral, Jacinto Lucas Pires, José Luís Peixoto, Sandro William Junqueira e David Machado, autores nascidos entre 1967 e 1978. (...) Estou a falar de autores premiados e traduzidos, não estou a falar de meninos de coro.
Gostava de saber o que pensam da falácia europeia, do desemprego sem freio, do empobrecimento geral, dos direitos das minorias, do arbítrio das agências de notação financeira, do diktat da Goldman Sachs, enfim, do retrocesso que tudo isto representa."
Embora possam e devam contribuir mais, creio que essa abulia é de facto aparente e que esta geração escritores, de forma crescente, tem vindo a terreiro dizer o que pensa sobre o momento que vivemos, dando o seu contributo de uma forma mais clara e afirmativa. Disso darei conta em próximas publicações.
Entretanto, o que hoje proponho é a leitura de uma outra geração e dos escritores que tiveram a coragem de se erguer contra a ditadura e com os quais muito temos a aprender. Por eles, Adolfo Casais Monteiro.

Adolfo Casais Monteiro
O País do Absurdo - Textos Políticos
(1 Edição de 1974)
IN-CM, 2007
"Há quem se escandalize pelo facto de haver no Brasil intelectuais portugueses que não se restringem às respectivas áreas de "especialidade", e que, sendo professores, não se limitam a ensinar, sendo poetas, não se limitam a fazer versos, sendo pintores, não se limitam a pintar... etc. É que esses intelectuais são também "especialistas" de outra coisa, se me permitem a ironia: têm a especialidade de ser cidadãos conscientes."
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