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Ouvi há pouco na televisão que o Cinema Londres, na Avenida de Roma, em Lisboa, fechou portas. Mais uma sala clássica de cinema da cidade que encerra, por insustentbilidade financeira. Um panorama já pobre vai emagrecendo com os efeitos da crise. E, note-se, a programação do Londres nem era particularmente alternativa ou para públicos menos amplos, oferecia títulos de cinema dito comercial e as estreias do momento. Infelizmente, não consigo deixar de pensar qual será o próximo a cair, quando recordo as sala semi-vazias em sessões de fim-de-semana noutros locais.
As pessoas ouvidas na peça lamentam a redução da oferta, numa zona da cidade em que uma população mais envelhecida e com menor mobilidade vai ficar sem respostas culturais perto de casa, agravando o seu isolamento e reduzindo acesso à cultura. Todos recordam o que por lá foram vendo ao longo dos anos, havendo cinema para todos os gostos - um Super-Homem, um Bergman, um dos nomeados dos óscares deste ano.
Não era dos sítios que mais frequentava, mas também me junto ao exercício de nostalgia inesperada. E nesse registo, para além das mais recentes recordações que guardo do DocLisboa (em que quase tudo o que vi foi precisamente ali), o Londres (que espero que consiga reabrir e sobreviver aos tempos da Troika) será para sempre o cinema do Pulp Fiction.
O Congresso dos Estados Unidos aprovou finalmente a renovação da Lei sobre Violência contra as Mulheres (Violence Against Women Act - VAWA, aprovada inicialmente em 1994), quinhentos dias depois da maioria republicana na Câmara dos Representanes ter deixado expirar a legislação. Ainda assim, 138 (sim, cento-e-trinta-e-oito!) republicanos conseguiram votar contra a iniciativa, tendo alguns reiterado que não se tratava apenas de uma divergência quanto ao conteúdo de algumas disposições e que votariam contra qualquer versão alternativa do projecto. E que poderosos argumentos se conseguem arregimentar contra legislação desta natureza? Ora aqui vai um exemplo:
"This is a feel-good measure that uses ‘Violence Against Women’ as an excuse to vastly expand a dizzying array of government grant programs, hamstring judges who are attempting to resolve and reconcile highly volatile relationships, add $1.8 billion to the nation’s debt and generally insinuate the federal government into matters the Constitution clearly reserves to the states. Federal grants of all kinds (essentially gifts of public money with little or no oversight) are out of control and ought to be abolished — not expanded.” ["Trata-se de uma medida para consolar consciências, que usa a "Violência contra as mulheres" como uma desculpa para expandir um conjunto extonteante de programas de subsídios governamentais, subordina juízes que estão a tentar resolver e assegurar a reconciliação e relações altamente voláteis, adiciona 1.8 mil milhões de dólares à dívida nacional e insinua uma ingerência do governo federal em matérias que a Constituição reservou aos Estados. Subsídios federais de todos os tipos (essencialmente ofertas de dinheiro público com pouca ou nenhuma fiscalização) estão fora de controlo e deveriam ser abolidos - e não objecto de expansão".]
A violência doméstica como conspiração utilizada para alargar o leviatânico poder do Estado e arranjar maneira de aumentar a dívida. Nem com toda a imaginação do mundo lá chegaria.
Uma das questões que mais me assusta nesta crise é a descrença relativamente aos políticos e o que isso representa de descrença no sistema democrático.
Bem sei que há todo o tipo de maus exemplos que proliferam nos meios politicos: os vícios, a endogamia, o facto de a motivação da maioria das pessoas disponíveis para exercer cargos políticos não ser o interesse na causa pública, só para nomear alguns.
Contudo, uma pulsão violenta domina-me de cada vez que ouço alguém, normalmente pessoas cuja vida não é minimamente imaculada do ponto de vista do cumprimento dos deveres cívicos, fiscais ou mesmo para com os seus semelhantes, dizer que o povo até é bom, mas os políticos são todos maus. Como se os políticos não viessem dessa massa ou fosse uma questão de azar esta coisa de nos calhar na rifa uns cretinos quando o povo é tão bom.
Apesar de perceber muito bem que as pessoas não se sintam atraídas pela vida pública, não só mas também pelo que isso representa em potência de se ser enxovalhado em praça pública, acredito que cada povo tem políticos à sua imagem.
Cabe ao povo definir o que pretende que os seus políticos sejam. Compete a cada um de nós demonstrar, não apenas em atos eleitorais, o que pretendemos ver defendido pelos nossos políticos. Infelizmente, para a grande massa, sempre foi infinitamente mais fácil obedecer do que lidar com as escolhas e a responsabilidade da liberdade. E, neste momento, uma dormência mental ajuda a que o peso das dinâmicas de sobrevivência de cada um seja entorpecedor de uma cidadania ativa, para a qual nunca fomos realmente educados.
Partilho uma ideia de democracia direta que, não sendo de todo inovadora no mundo, me parece reunir os requisitos no sentido de mudar o estado desta relação desavinda.
Os deputados da República deviam ter gabinetes de atendimento aos cidadãos. Já sabemos que existem mil e uma formas e canais de chegar aos ditos, desde as audiências às petições. Mas claramente não têm funcionado como desbloqueador desta distância que se estabeleceu entre os políticos e o povo. Há sistemas políticos em que constitui uma obrigação para os titulares de alguns cargos políticos a existência de tais locais de atendimento. Para além do que representaria em termos de uma tentativa real de resolver problemas concretos das pessoas, seria uma forma de os deputados sentirem o pulsar dos seus concidadãos.
Faria diferença?
Eu acho que sim.
Stéphane Hessel morreu ontem com 95 anos. Deixou-nos um apelo para que não nos resignemos, para que lutemos por uma sociedade mais justa e igual. Eu continuarei a indignar-me contra a injustiça e contra uma sociedade dominada por elites que "domam" as nações a seu bel-prazer. Continuarei a indignar-me e a agir contra as inevitabilidades que nos castram a felicidade e os sonhos e que nos impede de nos realizarmos enquanto pessoas e cidadãos.
Para além do caos final que resulta de um parlamento dividido e sem matemática coligatória, todo o rasto da campanha é francamente desolador, com destaque para o discurso e para o modelo eleitoral que ajudou a agravar o desfecho.
Quanto ao discurso, não poucas vezes resvalou para a agitação de fantasmas anti-europeus (começando por Beppe Grillo, que defende a saída da Itália do Euro) e anti-germânicos (trazendo-nos à memória o Berlusconi acossado em Estrasburgo a chamar guarda de campo de concentração a Martin Schulz). Mais do que abrir caminho para inovação, entricheirou as lideranças em buracos dos quais dificilmente podem sair para construir um governo minimamente aceitável.
Quanto ao processo eleitoral, tornando o cozinhado ainda mais explosivo, a experimentação eleitoral que procura inventar sistemas que produzam estabilidade acabou por oferecer um bónus à ingovernabilidade. Eis o resultado de procurar mexer no sistema eleitoral para resolver problemas que não foram causados pelo sistema eleitoral, nem se resolvem com artifícios esquemáticose de mais do que duvidosa democraticidade. As doenças dos sistemas políticos em quebra de credibilidade não são as formas de eleger os titulares de cargos políticos, mas sim a falta de soluções, de credibilidade ou renovação desses mesmos titulares.
Num contexto de quase caos político, de cavalgada de populismos antigos e novos, de crise financeira em potencial regresso, a Itália pode, pelo menos, apresentar uma vantagem em relação aos nossos póprios problemas (alguns mais graves, outros menos, sublinhe-se). Tem pelo menos um Presidente da República digno desse nome, inteligente e com capacidade de distinguir o acessório do essencial, e que provavelmente representa uma das poucas garantias de uma saída menos má nos seus últimos meses como Chefe de Estado, apesar dos muitos constrangimentos que o seu fim de mandato lhe colocam. Um Presidente num sistema parlamentar que bem podia inspirar lusos semipresidencialismos.
Só nos resta mesmo desejar Buona fortuna, signore Napolitano!
"A revolução verdadeiramente revolucionária realizar-se-á não no mundo exterior, mas na alma e na
carne dos seres humanos."
Aldous Huxley
Aqueles que estão convictos de que têm o poder e o país nas mãos, acompanham o novo paradigma com uma encenação para “gente estúpida”, olhando para o povo com soberba e arrogância, e lá vão trilhando o percurso para o desmantelamento do Estado Social e de desregularização do mercado de trabalho, na esperança de alterar a Constituição e a partir daí, ter o caminho totalmente livre para que a doutrina se instale e o “novo futuro” emerja pela mão desta “elite de iluminados”.
Esta nova classe emergente no poder, que mistura estes fundamentalistas neo-liberais com a arrogância dos herdeiros dos senhores dos tempos da ditadura, que nunca conviveram bem com a melhoria de vida de todos os cidadãos e do direito de todos a adquirirem uma licenciatura, as férias, o carro, a casa, vêm aqui a grande oportunidade de empurrar a classe média que emergiu com a democracia, para aquele que verdadeiramente entendem que é o seu lugar – a pobreza envergonhada dos remediados que comem e calam e que, como disse o banqueiro Fernando Urlich, membro da casta e emissário da superioridade da elite - ai aguenta, aguenta!.
Este caminho que se faz com a “brutal subida de impostos” de Passos e Gaspar, dos cortes dos subsídios de férias, da desvalorização do trabalho à custa do desemprego e da emigração, mina a confiança, mina a esperança, cria desalento e posiciona os portugueses e as portuguesas para serem subjugados por quem manda.
Mas é bom que esta elite de “new age” misturada com “aristocracia da treta”, que se julgam acima dos outros, compreenda que o povo, mesmo espartilhado, um dia enche. E nesse dia veremos o que pode acontecer ao “admirável mundo novo”.
O Ministro "Álvaro" não pára de surpreender. Foi a Londres dizer que Portugal é amigo do investimento (SIC!)!!!!! Disse-o aquando do exercício das suas novas funções governativas - Agente Imobiliário.
Declarações de Eduardo Catroga: "No dia em que se inicia a sétima avaliação da "troika", o economista Eduardo Catroga diz que o Governo tem de dispensar funcionários públicos e alterar a idade da reforma" (http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=3072968).
Relatório encomendado pelo Governo ao FMI "RETHINKING THE STATE—SELECTED EXPENDITURE REFORM OPTIONS": "The government’s spending reduction target can only be achieved by focusing on major budget items, particularly the government wage bill and pension spending".
A legitimação da solução começa. Falta António Borges vir elogiar.
Quando atingimos valores de desemprego históricos, criar mais desemprego (e tendencialmente de longa duração) parece fazer todo o sentido...
Depois de Futre ter assumido receber um convite para se candidatar à Junta de Freguesia de Campolide na lista do Seara, estou em condições de anunciar o resto da equipa:
Neno no Lumiar;
Quarteto defensivo composto por Augusto Inácio e Álvaro Magalhães em Alvadade e Alcântara; Eurico em Marvila ficando Venâncio para a Ajuda;
No meio campo vai alinhar Petit no Areeiro, Frasco nas Avenidas Novas e Rui Costa em Arroios;
A frente de ataque foi confiada a Futre em Campolide; Paneira no Beato e Eusébio em Benfica.
A táctica está dada...
“(...)O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguel. A agiotagem explora o juro…(…)”
Queiroz, Eça, Uma Campanha Alegre (1890)
Actual, Não?!
A principal constatação que esteve na origem deste blogue passa pelo facto de os tempos que atravessamos não serem tempos como os outros. Aquilo que tomávamos por adquirido quanto ao nosso Estado social, à saúde da nossa democracia e ao destino do projecto europeu é hoje posto em causa todos os dias, sem que o debate público de ideias em torno deste desafio corresponda aos mínimos olímpicos que se exigiriam. Os cidadãos estão cada mais descrentes dos seus representantes, os seus representantes estão cada vez mais absorvidos pela bolha virtual e mediatizada que rodeia os espaços do poder e o conjunto do País empobrece, vítima de estratégias desconexas da realidade, esvaziadas de solidariedade e perdidas em contradições.
Alguns de nós, autores e autoras deste blogue, exercem funções públicas ou já as exerceram, outros têm tido graus variados de intervenção cívica ou associativa em vários momentos das suas vidas, mas todos partilhamos uma inquietação quanto ao rumo para o qual a nossa centenária República se encaminha e a convicção de que é nos valores da esquerda democrática e republicana que se encontram as soluções para os seus problemas. Sabemos também que padecemos de muitos dos males que diagnosticamos e não queremos fugir à crítica ou ao debate que a nossa própria humana imperfeição pode suscitar. Mas, acima de tudo, queremos usar este cantinho virtual para dizer presente a este debate, provocar outros a fazer o mesmo e explorar até ao máximo aquela que é das liberdades mais fundamentais nas sociedades democráticas: a da palavra!
E sem desmerecer outras tradições, a figura do Filibuster parlamentar, popularizada no contexto do Senado americano, mas com pergaminhos igualmente dignos de nota noutros tempos da nossa própria história política, pareceu-nos traduzir o espírito do que pretendemos incutir à nossa intervenção.
Trata-se, acima de tudo, de uma forma de manifestar que o mais imprescindível é não deixar de falar, discutir ideias, insistindo nos valores que nos guiam e recusando compromissos e soluções artificiais nos princípios estruturantes. Claro que a opção pode também ser vista como uma gentil e provocatória ameaça de obstrução aos adversários, mas sendo a blogosfera um espaço de convívio plural prometemos que os nossos flibusteiros apenas pretendem afogar a vizinhança em argumentos (e dos bons!).
Finalmente, prometemos também não ficar obcecados apenas com a espuma dos dias do debate político, apontando para uma mistura bem mais rica em temas do que a nossa estética e nome poderiam denunciar (não esquecendo, porém, que uma das formas de manter um filibuster eficiente a durar várias horas, passa muitas vezes pela leitura integral de romances ou de antologias poéticas).
Esperamos que continuem a visitar-nos.
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Facto é que o DUA é omisso no respeitante ao teor ...
Face aos novos dados sobre a real poluição emitida...
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Agradeço a sua resposta. Não posso no entanto deix...
Dou de barato a demagogia de fazer a comparação en...