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LEITURAS

por David Areias, em 31.07.13

Nuno Júdice
A Implosão
Dom Quixote, 2013

"Era nisto que a nova Europa se estava a tornar: os guetos eram os países sob confisco, em cada um deles tinham arranjado governos dóceis que cumpriam as ordens que vinham dos centros de decisão. Não chegáramos à perfeição desses guetos, ao encerramento dos países dentro de muros de onde ninguém podia sair nem entrar; mas era uma questão de tempo, pensava eu, enquanto ia passando por criaturas deitadas debaixo de portas, enroladas em mantas, alguns deles com um rádio ligado, sinal de que não se tratava já dos tradicionais pobres, os que vinham do nada e só tinham o nada para onde ir; estes vinham de meios em que havia o hábito de ouvir rádio, de ver televisão, só que não tinham outra hipótese senão adormecer na rua, com uma estação de música clássica a dar-lhes com o 'Hino à alegria' em cima, para que eles agradecessem à Mãe Europa por essa dádiva do céu; ou então a alternativa que tinham, se não tivessem umas moedas para se sentarem num café, era esperar que nalguma montra estivesse um televisor ligado e ficar em frente, a ver o que se passava no ecrã, mas sem o som que o vidro abafava. Assim, ao menos não tinham de ouvir as notícias, de estar a par da queda de um mundo, que era o que estava a acontecer à vista de todos."

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publicado às 23:33

O ACTO SEGUINTE

por David Areias, em 11.07.13
Improvável, inesperado, imprevisível, inacreditável. Nada descreve com suficiência a política portuguesa nestes dias de Julho de 2013. Ninguém percebe ao certo os eventos que desencadearam esta crise, muito menos o momento em que ela surge.

Não fugindo à norma destes dias, também Cavaco surpreendeu. São tantas as questões como as respostas que resultam da comunicação do dia 10 de Julho. Se percebemos que este Governo perdeu definitivamente a legitimidade de que dispunha, ficamos sem perceber ao certo qual a solução aceitável para que se mantenha em funções. Aqui reside a maior incógnita: até que ponto de intervenção está Cavaco disposto a chegar para evitar eleições antes de Junho de 2014?

Ao tomar esta posição, pode Cavaco estar a assumir algumas das grandes inquietações nacionais: não conseguimos eleger uma alternativa de governo credível num curto espaço de tempo; os líderes que os portugueses parecem desejar para Partido Socialista (António Costa?) e para o Partido Social Democrata (Rui Rio?) muito dificilmente serão apresentados como candidatos pelos seus próprios partidos; não se prevendo maiorias absolutas, o CDS/PP não é de confiança e o Bloco de Esquerda e o PCP não se dispõe a coligações em que não mandem, por menos votos que representem.

Sendo ou não sendo essa a preocupação de Cavaco, o certo é que essas são inquietações que creio partilhadas por uma parte considerável da população e que revelam bem o estado de fragilidade e descrédito em que os grandes partidos se encontram. Ninguém tem ou deve ter medo de eleições, mas todos receamos que delas não consigamos as soluções que desejamos.

Nesta linha questiono-me: o limite de Junho de 2014, enquanto um governo de salvação apoiado pelos partidos que assinaram o Memorando vai segurando o país, não estará pensado também para dar oportunidade aos partidos para se reorganizarem em novas lideranças que possam ser capazes de acordos alargados? Podendo Passos Coelho ter ficado comprometido como líder do seu partido, não será esse o tempo necessário para o PSD (mais dificilmente o PS) encontrar outras soluções? [Para os que nisso acreditam, seria a perfeita vingança sobre o compasso de espera em que Sampaio teria deixado Santana Lopes governar, dando espaço para que uma liderança forte surgisse no PS, a tempo de novas eleições.]

No entanto, se parece certo que Passos Coelho, Portas e Seguro são neste momento inconciliáveis, já ninguém se poderá dizer surpreendido se o acto seguinte for o do reencontro e da concertação.

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publicado às 14:41

FIM DE LINHA

por David Areias, em 09.07.13
Vítor Gaspar fugiu do Governo, dias depois de considerar tranquilizadores os números da execução orçamental. Assumiu que falhou, assumiu que não tem melhor para dar.

Passos Coelho insistiu na política que Vítor Gaspar já não conseguia defender e nomeou Maria Luís Albuquerque para insistir no erro.

Paulo Portas aproveitou o momento e pirou-se. Pirava-se, não fosse o Passos não deixar. Revogou-se, portanto.

Passos ganhava o braço de ferro, não fosse o Portas ele próprio. Remodelou-se, portanto.

Cavaco está em Belém e só quer que o Governo sobreviva.

O resumo de uma das semanas mais trágicas da política portuguesa contemporânea: um Governo em fim de linha, agonizando em todas as estações, largando portugueses em todos os apeadeiros.

Depois do sucedido, realmente assustador e preocupante, é haver tanta gente a achar que não conseguimos eleger um governo melhor.

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publicado às 23:40

LEITURAS

por David Areias, em 08.07.13
[ aos heróis do 08 de Julho de 1912 ]


Júlio Montalvão Machado
O Granjo
Chaves, 2010 (Ed. Autor)

"Por Portugal inteiro consagrou-se o triunfo final das forças republicanas e quanto ficou a dever-se ao apoio extraordinário dos civis. Perante muitos mais anónimos distinguiu-se o grupo extraordinário dos 'Defensores de Chaves', pouco mais de meia centena de republicanos, que há anos vinham contribuindo para a implantação da República e nessa data tinham lutado para consolidá-la. Honra igualmente ao valor dos militares comandados pelo capitão Maia Magalhães e major Ribeiro de Carvalho."

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publicado às 23:08

O pântano (diário de bordo) - Day Two

por Pedro Vaz, em 04.07.13

 

Dia 2 da paródia:

 

  • Afinal o irrevogável passa a negociável;
  • O Presidente da República entra na brincadeira e faz divulgar reuniões que ora se realizam ora se adiam;
  • Pedro & Paulo passam o dia a entrar e a sair de reuniões entre ambos para fazerem Governo (relembro que já existia um Governo feito por ambos);
  • O Ministro da Saúde faz debate parlamentar na Assembleia da República como se fosse o Ministro das Finanças
  • O marido da recém/ex/futura Ministra das Finanças, descoberto que foi rescindiu o contrato de consultadoria que tinha com a EDP passou novamente a desempregado (fazendo aumentar os números do desemprego no país).
  • Marques Guedes, Ministro da Presidência dá uma da Maya e fala em astros para previsões quanto ao futuro do GOVERNO DA NAÇÃO.

 

 

De facto começo a ficar como Passos Coelho ontem, quando afirmou "que o país não vai deixar de querer ver este filme". Apenas lamento esta vergonha nacional. 

 

Como político que sou, peço desculpa a tod@s @s meus concidadãos por isto tudo. Mas acreditem não são todos iguais. Eu não sou igual a esta gente seja ela de que partido for.

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publicado às 17:15

Loucos dias

por Pedro Ângelo, em 03.07.13

Quando nada o faria esperar, o País foi surpreendido com a demissão dos dois únicos Ministros de Estado deste decrépito governo, primeiro Gaspar e depois Portas. Se a saída do primeiro era há muito aguardada, e até expectável face ao falhanço de todas as previsões macroeconómicas do seu programa de ajustamento, pese embora ninguém esperasse que o fosse nesta oportunidade, a saída do líder do partido parceiro da coligação terá certamente deixado atónito o mais próximo colaborador.

Vejamos a sucessão de factos. A meio da tarde de segunda-feira chega às redacções a notícia da demissão do Ministro de Estado e das Finanças, Vitor Gaspar, notícia que foi rapidamente confirmada pelo executivo. Por ridículo da situação, os anunciados briefings do Governo, criados para articular a informação a veicular e resolver os problemas de comunicação, tinham sido iniciados nessa manhã, sem que esta menosprezante informação fosse divulgada. Não há explicação para a omissão desta informação, tanto mais que uma das participantes nesse briefing era precisamente Maria Luís de Albuquerque, promovida a nova Ministra das Finanças durante a tarde. Ao fim da tarde, somos brindados com uma inédita carta pública do Ministro demissionário Vitor Gaspar, em que explica as razões do seu abandono, desferindo subtilmente violentos golpes quer ao parceiro da coligação, quer à liderança do governo.

Nesse mesmo dia à noite, ocorreu o agendado Conselho Nacional do CDS/PP. Ainda que as reuniões das cúpulas partidárias não sejam à porta aberta, o que transpirou para fora foi que Paulo Portas optou por conduzir os trabalhos na discussão do próximo congresso e na preparação das próximas eleições autárquicas, sem referência ao sucedido naquela tarde relativamente a um facto de somenos importância, a demissão do Ministro das Finanças, que muitos consideravam na prática ser o verdadeiro chefe de Governo.

Ora, este é mais um facto a relevar e a justificar a estupefacção com que os partidários do MNE mais próximos devem ter ficado na tarde de ontem. Paulo Portas resolve demitir-se sem aviso prévio aos seus mais próximos? Quando houve inclusive uma reunião do órgão máximo do partido entre congressos na noite anterior?!

Terça-feira de manhã, Portas informa Passos Coelho da sua intenção de abandonar o Governo, motivada alegadamente na discordância manifestada no dia anterior ao próprio quanto à escolha da nova ministra para assumir a pasta das finanças.

É entre a manhã e a tarde que se passa novo facto grave. O Presidente da República, numa das poucas aparições públicas que agora faz, é confrontado pelos jornalistas sobre a instabilidade no seio do Governo com a demissão de Vitor Gaspar. Replica pugnando que a demissão do Governo passará necessariamente por uma votação nesse sentido no local considerado adequado pelo próprio, a Assembleia da República. Face a estas declarações, só se pode admitir que a decisão de Paulo Portas em abandonar o Governo tinha sido sonegada ao Presidente da República, o que não é grave, é antes gravíssimo. Passos Coelho e Portas permitiram que o Presidente da República passasse por uma figura deprimente, de quem já nada sabe, nada arbitra ou modera, ou seja nada controla.

 Às 20h desta longa terça-feira, o Primeiro-Ministro entra em directo nas televisões com uma declaração que só pode ser adjectivada como patética. Faz finca-pé e diz que não aceita a demissão do seu Ministro de Estado e líder do partido parceiro da coligação. Todos percebemos que se deu início à encenação da responsabilização da queda do Governo. Ninguém quer ficar com o odioso de ter sido o responsável pelo fim da coligação e a precipitação de eleições. Mas mais do que isso, ninguém deseja ficar com a responsabilidade do segundo resgate, da subida das taxas de juro, do desperdiçar dos esforços dos portugueses nos últimos dois anos e de novas medidas de austeridade, que se adivinham ser ainda mais violentas.

Não me imaginava a fazê-lo, mas é hoje oportuno evocar Sá Carneiro quando afirmou:

“O nosso Povo tem sempre correspondido nas alturas de crise. As elites, as chamadas elites, é que sempre o traíram…”

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publicado às 12:45

O pântano (diário de bordo) - Day One

por Pedro Vaz, em 03.07.13

(foto "retirada" aos Ladrões da orquestra do Titanic a actuar durante o naufrágio)

 

Dia 1 do Pântano Político Português

 

  • A Ministra de Estado das Finanças, que mentiu ao Parlamento enquanto Secretária de Estado, cumpre o seu 1º Dia enquanto governante.
  • Os juros das Obrigações do Tesouro disparam e as OT a 10 anos ultrapassam já os 8%.
  • O PSI-20 afunda-se mais rápido que o Titanic.
  • O Primeiro Ministro Pedro foi a Berlim reunir (reuniões houve na Europa que deveria ter ido e não foi) depois de ter dito que só sai corrido do lugar que ocupa.
  • Depois de Portas ter divulgado publicamente que se demite. Ainda não se sabe se é ele que abandona enquanto indivíduo, se é o CDS enquanto Partido, etc.
  • Ainda não se sabe o que o CDS vai fazer. Se os restantes membros do Governo, indicados pelo CDS, se demitem (inclusivé o que tomou posse ontem à tarde).
  • A Comissão Executiva do CDS vai reunir hoje. Não se sabe bem a hora.
  • Não se sabe se o Congresso do CDS marcado para este fim-de-semana se mantém.
  • Cavaco Silva vai reunir em reuniões hoje e amanhã.

 

É assim que vai este país. Triste espetáculo.

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publicado às 12:28





Filibuster, subs.

1. Utilização de tácticas de obstrução, tais como o uso prolongado da palavra, por membros de uma assembleia legislativa de forma a impedir a adopção de medidas ou a forçar uma decisão, através de meios que não violam tecnicamente os procedimentos devidos;

Filibuster, noun
1. The use of obstructive tactics, such as prolonged speaking, by a member of a legislative assembly to prevent the adoption of measure or to force a decision, in a way that does not technically contravene the required procedures;

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