por David Areias, em 14.05.13
As declarações políticas sobre a língua portuguesa e a sua importância no mundo são fáceis. E ficam sempre bem ao colo de algumas citações como "a minha pátria é a minha língua" de Bernardo Soares, ou como "da minha língua vê-se o mar" de Virgílio Ferreira. Mais difícil é encontrar declarações políticas que nesta matéria correspondam a uma vontade política que as transforme em estratégia e acções concretas.
Chega-nos da Galiza (de fora dirão alguns, de casa digo eu) um exemplo muito concreto de reconhecimento da importância da língua portuguesa no mundo e de acções que promovem o seu reforço. O Parlamento Galego aprovou hoje uma iniciativa legislativa popular, designada como Iniciativa Paz-Andrade em homenagem ao escritor galego cuja obra foi em 2012 assinalada pela Real Academia Galega no Dia das Letras Galegas.
A iniciativa consubstancia-se em quatro medidas muito concretas: primeiro, a inclusão do ensino da língua portuguesa em todos os níveis de escolaridade; segundo, a valorização do conhecimento da língua portuguesa nos concursos de acesso à função pública; terceiro, o fomento da participação do Governo Galego em todas as instituições da lusofonia; quarto, a garantia que as televisões e rádios portuguesas são transmitidas em toda a Galiza através da televisão digital terrestre.
Este sinal vindo da Galiza não pode deixar de ter uma resposta à altura da parte de Portugal, em especial de Trás-os-Montes, do Minho e do Porto, as únicas regiões que têm demostrado perceber a importância estratégica desta ligação. Seja através de organizações como o Eixo Atlântico, seja através de iniciativas como a Eurocidade Chaves - Verin.
Ocupamo-nos a discutir a necessidade de uma ligação ferroviária entre o Porto e Vigo, entretemo-nos a obrigar os veículos estrangeiros a pagar nas SCUT, convidando-os a não vir a Portugal. Entretanto, já a Galiza percebeu a importância que tem para si a língua portuguesa e a sua inclusão no espaço lusófono. Importância cultural e importância económica. Algo que ainda hoje desconfio que Portugal não percebeu verdadeiramente, entre os traumas do colonizador bonzinho e o estado de emergência que nos tem diminuído de forma envergonhada perante os capitais de Angola e do Brasil.
A isto não é indiferente o garrote centralista da nossa política e a falta de lideranças a norte. A Galiza não é um assunto político em Portugal. Devia sê-lo.
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