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Lamento voltar ao tema, mas desde que, há pouco mais de uma semana, ouvi falar das afirmações de João Salgueiro tenho andado a marinar várias ideias.
Na altura, achei que sob uma aparente noção de utilidade com interesse nacional, a mensagem principal tinha passado tão ostensivamente às claras que suscitaria, por certo, ondas de indignação. Mas por estes dias há tanta, mas tanta coisa, com que nos podemos e devemos indignar que aquelas declarações provocaram apenas as reverberações habituais nas redes sociais e nos media.
Fui ler as declarações porque podia ser mais um daqueles episódios em que a montanha pariu um rato ou se toma a parte pelo todo. E descubro que João Salgueiro disse mesmo coisas como “Nós temos cá engenheiros e professores de matemática a trabalhar na construção civil. Vieram da Ucrânia. E uma grande parte das pessoas aqui vão para outros países trabalhar nas condições que lhe oferecerem.” http://m.tsf.pt/m/newsArticle?contentId=3082999&related=no
O senhor até cita Keynes, para justificar a ocupação que todos os desempregados merecem, tal é o descaramento!
Mas uma das partes destas declarações que mais ecoa em mim é que João Salgueiro não ficaria chocado se visse alguns dos seus alunos universitários a trabalharem na construção civil ou na limpeza de matas. Parece-me que esta ideia condensa a ideologia subjacente de forma cristalina. Alguns dos seus alunos universitários. Quais? Aqueles que nunca deveriam ter lá chegado e que não perceberam o seu lugar na ordem social? Aqueles que tiveram os pais a lutar para os ter a estudar e agora não arranjam emprego por mais currículos que enviem?
Sob o manto da emergência nacional, que é taxativamente comparada com o pós-guerra, vamos colocar as pessoas no lugar delas. Aliás, até é para o bem delas, para elas se sentiram ocupadas.
Mas este episódio é apenas mais um numa trama em que os protagonistas variam entre a beata dos bifes, o banqueiro que sabe o que aguenta um sem-abrigo, governantes que semeiam ideias como o ensino obrigatório pago ou o “voluntariado obrigatório” para os desempregados.
Uma vez ouvi uma fadista descrever uma maneira de estar na vida que ela classificava como intrinsecamente fascista. Contava ela que a mãe, que era criada de uma família abastada de Lisboa, tinha de esconder o rádio que comprara para ela e a filha ouvirem música, porque se os patrões percebessem que ela tinha dinheiro para o comprar baixariam imediatamente o salário, como já o haviam feito, porque afinal ela tinha para esbanjar e isso eles não podiam permitir.
Já nasci durante a democracia e talvez, por esse facto, achei que estaria a salvo de ideias fascistas influenciarem a minha vida.
Estes são realmente tempos de revermos todos os pilares em que assentamos a nossa vida e de decidirmos quais os valores de que não abdicamos, como residual a que confinamos a nossa dignidade.
E eu não admito que esta elite de gente ressabiada com as conquistas da democracia me diga em que lugar me insiro na sociedade e o que posso almejar na Vida.
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