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Da indignação das restrições de circulação a veículos em Lisboa

por Pedro Vaz, em 18.01.15

Importa esclarecer em primeiro lugar, que as restrições à circulação de veículos automóveis em algumas zonas da cidade de Lisboa, não começou agora.

 

De facto, esta é a terceira fase de implementação. Tendo o processo sido iniciado em 2008, na sequência de uma Directiva Comunitária (Directiva Quadro n.º 2008/50/CE de 21 de Maio) e implementada gradualmente desde 2011.

 

A ideia que se pretende passar da insensibilidade social da CML e, consequentemente, de António Costa, por atacarem aqueles que menos posses têm e não têm condições para adquirirem novas viaturas, é demagogia pura e simples. Senão vejamos:

 

  1. A Zona da Cidade que está restringida à circulação de carros que cumpram a norma de emissão de partículas EURO 3 (fabricados a partir de 2000 ou veículos que tendo sido fabricados antes mas que comprovadamente cumpram a norma EURO 3) é a AV. da Liberdade e a Zona da Baixa Pombalina, podendo circular na Rua das Pretas e na Rua da Conceição viaturas que cumpram a norma EURO 2. Como se vê, uma zona bem pequena da Cidade;
  2. As restrições são das 07h às 21h dos dias úteis. Não se aplicam nos fins-de-semana;
  3. Relembre-se que a maioria do parque automóvel nacional tem em média 11 anos (dados de 2013) o que não trará grandes limitações às Zonas da Cidade onde se aplica a norma EURO 2 (viaturas construídas a partir de 1996 e/ou que cumpram as emissões referidas na norma EURO 2, ainda que construídas anteriormente);
  4. Estão excepcionadas as seguintes viaturas:
    • Veículos de emergência e de pessoas com mobilidade condicionada;
    • Veículos históricos;
    • Veículos afectos à actividade de táxi até 30 de Junho de 2015 (período para adaptação);
    • Veículos pertencentes a residentes nas Zonas de Estacionamento 5, 12 e 13 para a restricção da Norma EURO 3 e residentes na cidade de Lisboa para a restante zona de limitação da cidade;
    • Veículos a GN, GPL e motociclos;
    • veículos da polícia;
    • veículos militares;
    • veículos de transporte de presos;
    • veículos blindados de transportes de valores.

Perante tais dados, custa-me acreditar que haja assim tantas pessoas que serão afectadas.

Penso, ainda, que o trânsito no centro da cidade deve ser muito limitado, especialmente, numa cidade como Lisboa, que com todas as dificuldades que possam existir no sistema de transportes públicos, está a anos/luz de qualquer outra cidade do país e o mesmo é bastante satisfatório.

A qualidade de vida na cidade depende também de haver cada vez menos veículos a circular na cidade.

 

Está na hora de sabermos aquilo que queremos enquanto país.

Se queremos ter mais qualidade de vida e menos poluição teremos que atacar os problemas e não enfiar a cabeça na areia como as avestruzes. Pois o ano ainda mal começou e Lisboa já ultrapassou nove (9) vezes o valor máximo permitido de gases poluentes. Sempre que o nível de emissões é ultrapassado, o país é multado pela União Europeia (está bom de saber quem paga essas multas).

 

Recorde-se que hoje em dia já são fabricados viaturas que cumprem a norma EURO 6.

 

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publicado às 18:17



9 comentários

De Rui Cerdeira Branco a 20.01.2015 às 15:29

Como pode um detentor de um veiculo anterior a 2000 comprovar que o seu veículo cumpre com a norma EURO 3 junto das autoridades?
Obrigado.

De Pedro Vaz a 20.01.2015 às 15:58

Caro Rui,

Pela informação que tenho, através dos pontos V do DUA ou certificado de inspeção do veículo sobre as emissões nos restantes.

De João Neto a 04.02.2017 às 12:12

Facto é que o DUA é omisso no respeitante ao teor de CO e partículas. Exibe apenas o teor de CO2 que no meu caso, motor Renault 1.4 16V a gasolina construido em 1999 mas respeitando a norma EURO3, é de 156 g/km. Será que essa informação é suficiente para convencer os agentes da Polícia Municipal ou será necessário outro documento?

De Arbitrariedade a 21.01.2015 às 21:24

A questão que não é respondida é a que corresponde a norma Euro 2, Euro 3, etc.

Pode um carro de alta cilindrada a diesel, que cumpre a norma Euro 3, poluir mais que um carro de baixa cilindrada a gasolina que só cumpre a norma Euro 2?

Se a resposta for positiva confirma-se a discriminação económica. Não se baseia em critérios de igualdade, baseia-se em capacidade económica.

E parece ser esse o caso. Um carro a gasóleo que cumpre a norma Euro 3 pode emitir 0,56 de HC + NOx e acede a todo o lado, um carro que cumpra a gasolina que cumpra a norma Euro 2 pode emitir apenas 0,5 de HC + NOx , polui menos mas não tem acesso a todo o lado.

Isto para mim é discriminação económica pura e dura.

De Comentador Acidental a 21.01.2015 às 23:19

Dou de barato a demagogia de fazer a comparação entre o malandro da "alta cilindrada" e o coitadinho de 'baixa cilindrada' quando as normas Euro 2 e 3 não têm nada a ver com cilindradas mas com emissões.
Uma cilindrada baixa pode poluir muito mais que uma alta, não tem nada a ver (as emissões de CO2/Km é que normalmente têm mas o CO2 está ligado ao efeito de estufa e não a estas considerações).
Pois a 'alta cilindrada a gasóleo'' que cumpre a norma Euro 3 e pode aceder a todo o lado pode emitir 0,56 de HC + NOx e a 'baixa cilindrada a gasolina' que só cumpre a Euro 2 emite apenas 0,5 de HC + NOx.
Até aqui parece ter razão, mas agora pergunto eu, porque é que omite a emissão de CO - o venenoso Monóxido de Carbono, o que mata os velhos à braseira e idades sortidas por esquentadores mal regulado/ventilados, o gás que faz disparar os alarmes nas garagens quando em excesso?
Eu respondo-lhe, por desonestidade intelectual!
É que o tal coitadinho a gasolina de baixa cilindrada anterior a 2000 pode emitir, e emite quase sempre e cumpre as normas das inspecções emitindo 2,2 g/km, e o malandro poluidor de alta cilindrada a gasóleo de 2000 que cumpre a Euro 2 só emite 0,64 g/km, praticamente 3 vezes e meia menos!!
Pois é, o tal 'gasóleo de alta cilindrada' posterior a 2000 polui MUITO MENOS que o pobre 'baixa cilindrada a gasolina' anterior a esse ano.
Gasoleo Euro 3 = 0,64 CO - 0,56 HC+NOx
Gasolina Euro 2 = 2,20 CO - 0,50 HC+NOx



De Arbitrariedade a 22.01.2015 às 15:27

Agradeço a sua resposta. Não posso no entanto deixar de registar que enquanto o meu comentário foi uma refutação ao seu argumento, baseado nos poluentes que de facto é preocupante na Avenida da Liberdade, e penso ter sido cordial, a sua resposta está carregada de um tom agressivo que não compreendo. Pensei que gostava de trocar argumentos mas parece que cometi algum crime, sou acusado de demagogia e sei lá mais o quê. Enfim.

O alta cilindrada e baixa cilindrada não é demagogia. É para demonstrar a questão económica. Um carro muito mais caro e supostamente menos poluente pode afinal continuar a poluir mais que um muito mais barato e mais antigo. Ou seja, não é um critério estritamente de poluição - como defende no seu texto - mas um critério arbitrário que tem como consequência punir quem menos dinheiro tem.

Os números para a emissão de CO são de relevância menor, visto serem as partículas e o dióxido de azoto (NO2) que ultrapassam os limites com frequência. O CO tem relevância para a formação do NO2 mas o factor limitante é a presença de NO e não de CO, pelo que percebo da reacção química envolvida. As emissões de NOx e de HC são, na minha visão, mais importantes para a poluição que se quer evitar (NO2), e por isso as escolhi, não na tentativa de deturpar qualquer argumento.

Note-se que omitiu da sua refutação à minha refutação as partículas. Poderia inverter o ónus da demagogia agora. Porque no que toca às partículas (o outro poluente que é preocupante na Avenida da Liberdade), um carro Euro 2 a gasolina não emitia (os carros a gasolina não emitem partículas, praticamente). Já os carros a gasóleo emitem. Um Euro 3 pode emitir 0,05, mais uma vez muito pior que o a gasolina (10x mais do que o limite actual para novos carros, a gasóleo ou gasolina). Um gasóleo Euro 4 continua a emitir mais que um Euro 2 a gasolina. Ou que um Euro 1 a gasolina.

Ou seja, quer no NO2 quer nas partículas um carro Euro 3 a gasóleo, mais caro, emite mais poluição que um carro a gasolina Euro 2. Continua a defender que é uma questão científica?

A mim parece-me uma escolha política. Mas tem consequências para a liberdade das pessoas, principalmente as mais pobres, e por isso não posso concordar. É desigual e arbitrária. Acho curiosa à isenção para os carros históricos. Não são os pobres que os têm...

Sinceros cumprimentos.

De Arbitrariedade a 23.09.2015 às 11:29

Face aos novos dados sobre a real poluição emitida pelos carros a diesel, mais caros e de maior cilindrada, mais claro ser torna a discriminação económica que está a ser levada a cabo em Lisboa. Gostava de ver a CML a proibir os carros a diesel de circularem na cidade para impedirem andarem a matar pessoas com a poluição que produzem. Isso seria ser consistente. Mas vai acontecer? Claro que não.

http://www.theguardian.com/environment/2015/sep/14/nine-out-of-10-new-diesel-cars-in-breach-of-eu-pollution-rules-report-finds

De Felix Soares a 27.04.2015 às 13:17

Para todos aqueles que têm dúvidas do quanto perigosos são os poluentes emitidos pela combustão, faço só uma comparação.

Em 11 de setembro de 2001, morreram aproximadamente 3000 pessoas em resultado de um ataque terrorista. E o mundo ficou chocado.

No entanto, todos os anos, só nos EUA, morrem 4000 pessoas em consequência directa da inalação de monóxido de carbono (CO) proveniente da combustão de energia fóssil. E se alguém tem a coragem de tentar combater esta causa, é apelidado de vários nomes pouco elegantes.

É caso para perguntar: Onde está a inteligência humana?

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Filibuster, subs.

1. Utilização de tácticas de obstrução, tais como o uso prolongado da palavra, por membros de uma assembleia legislativa de forma a impedir a adopção de medidas ou a forçar uma decisão, através de meios que não violam tecnicamente os procedimentos devidos;

Filibuster, noun
1. The use of obstructive tactics, such as prolonged speaking, by a member of a legislative assembly to prevent the adoption of measure or to force a decision, in a way that does not technically contravene the required procedures;

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