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Passa hoje mais um dia de celebração da Europa, recordando a visão clara de Robert Schumann quanto ao caminho a trilhar para enterrar fantasmas, promover a prosperidade e garantir a paz. No entanto, celebramos a Europa num mar de incertezas, preocupados com uma falta de visão nas lideranças europeias inversamente proporcional aquela que deu o pontapé de saída para o projecto europeu.
Entre os erros estratégicos e a demora em dar resposta à crise das dívidas, passando pela teimosia em manter um Euro que não assegura a coesão e o crescimento sustentado de toda a Europa, até chegarmos ao desnorte presente em lidar com o contágio, do qual o episódio cipriota foi a mais eloquente manifestação, estamos bem entalados.
Ainda que possa ser difícil construi um consenso europeu diferente, com a rapidez desejável, repondo a centralidade da solidariedade e da coesão na agenda, não é aceitável continuar a olhar para receitas que destroem as economias da periferia, permitem a ascensão de partidos nazis e promovem o regresso à xenofobia e a caricatura mútuas no debate entre Norte e Sul da Europa, numa grotesca adaptação que podia levar o título de A cigarra e a formiga imperialista.
Pessoalmente, sei o que gostaria de ver numa Europa resiliente e combativa, inteligente na resposta à crise e mobilizadora dos seus cidadãos: sucintamente penso que a resposta passa por um reforço da componente federal, pela introdução de mecanismos de mutualização da dívida, por um novo papel para o Banco Central Europeu, por um reforço real do orçamento da União e por uma reforma democrática que torne o debate irreversivelmente político e definitivamente não assente em nacionalismos.
No entanto, mantendo-se o actual caminho do projecto europeu, continuaremos a não resolver o problema dos défices e das dívidas, teremos assegurado o alastrar da recessão a toda a Europa e teremos ainda aumentado o défice democrático e de legitimação da União Europeia.
Precisamente porque acredito convictamente no carácter único da União, mais do que aproveitar o dia para loas sem significado, prefiro aproveitá-lo para denunciar tudo o que ainda falta fazer e tudo o que, mal feito, precisa urgentemente de correcção. Acho que é a forma mais honesta de ser europeísta.
Dois artigos importantes
Sou leiga em economia, mas acho que consigo perceber o essencial do que estes senhores estão a falar e encontro-lhe uma racionalidade muito imediata. Mesmo estando na esfera de uma ciência muito pouco exata, se calhar seria avisado escutá-los.
Mas, como dizia um amigo que me chamou à atenção para estes artigos, são leituras que demoram mais do que a disponibilidade mental que é exigido por uma parangona e, por isso, não ecoam na opinião pública.
Eu sei: a lista de coisas a fazer é extensa, estamos todos cansados, é mais fácil ligar a televisão e ver uma série e, principalmente, a sobrevivência do dia-a-dia retira-nos a capacidade e a paciência para ler grandes coisas. Eu sei.
Mas era importante.
Tenho lido de tudo um pouco nos últimos dias para desvalorizar a manifestação de sábado.
Que se tratou de um evento organizado por "neocomunistas" que conseguiram de alguma forma enganar os cidadãos menos atentos a aderir.
Que nunca os números poderiam ter a ordem de grandeza noticiada (uma leitura que o Público reiterou de várias e originais maneiras).
Que a imprensa estrangeira passou ao lado da manifestação.
Que o resultado da manifestação não pode deixar de ser inconsequente por não surgirem enunciadas alternativas à crise, apenas se convidando a troika a ir lixar-se.
Que o modelo de protesto está esgotado, na medida em que já não aderem jovens, antes se tendo tornado num protesto de reformados afectados pelo corte das suas pensões...
Apesar de achar que a evidência do que ocorreu no Sábado passado fala por si, não resisto a deixar quatro ideias
1) Fazer contas de mercearia quanto à dimensão de uma manifestação que, a olhos vistos, foi colossal, é tentar escapar à evidência maior: o descontentamento cresceu e não abdicou de tomar as ruas em protesto e exigir uma mudança de rumo. No entanto, manteve-se pacífico e exemplar na sua conduta. Este povo merecia um respeito diferente.
2) Apesar da diversidade dos manifestantes, de todas as idades e estratos sociais, a mensagem que os unifica é claríssima. Este caminho é insustentável, o País caminha realmente e a passos acelerados para a ruína e o tímido despertar do Governo para esta realidade flagrante é tardio e insuficiente. A Troika, ou pelos menos os responsáveis pelas avaliações regulares, é que continuam ainda a viver numa realidade paralela de previsões e expectativas falhadas e deveriam aperceber-se de que o entoar da Grândola em uníssono a esta escala é o mais relevante indicador de performance da economia a que deveria prestar atenção nesta fase de balanço.
3) O discurso anti-partidos e anti-políticos continua a dominar e a demonstrar que o divórcio entre a sociedade e os responsáveis políticos (todos eles quase por igual) se continua a agravar, com consequências imprevisíveis que podem ir da subida da abstenção, à beppe-grillização ou à ascensão de radicalismos que apelem a quem se encontra em situação de maior desespero. Perante um descontantamento tão evidente, tão uniforme, as palavras de Carlos César sobre a incapacidade do PS se constituir como alternativa e veículo de transformação do descontentamento numa força de mudança (continuando, isso sim, a ser alvo de críticas dos manifestantes) continuam a dever merecer a maior ponderação.
4) Continuo a achar que estes não são tempos como os outros e a manifestação de sábado voltou a reforçar essa convicção. Se o Governo achar que escapou de mais uma e que a manifestação permitiu aliviar pressão para os próximos seis meses estará a enganar-se a si próprio. A paciência está a esgotar-se...
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Facto é que o DUA é omisso no respeitante ao teor ...
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