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Se não fosse a realidade isto até corria bem

por Pedro Delgado Alves, em 04.12.13

 

Os últimos dias não têm sido famosos para Nuno Crato, demonstrando que não basta agrupar lugares-comuns revivalistas sobre o sistema educativo e embrulhá-los num discurso libertador das anatemizadas Ciências da Educação, repetindo o mantra rigor até à exaustão do interlocutor. 

 

Depois de ter feito perder a cabeça aos reitores, encostados mais uma vez às cordas por um orçamento feito todinho no Terreiro do Paço perante a passividade de um titular da pasta da Educação que não consegue fazer prevalecer a ideia de que há alguma utilidade económica em não arruinar o sistema de ensino superior, seguiu-se a resistência intensa à prova de acesso para docentes contratados, que apenas algum bom-senso parcial de última hora permitiu travar na sua escala mais absurda, que apontava para a sujeição de docentes com anos de experiência e várias vezes avaliados a uma prova injustificada mesmo para quem pretende aceder à carreira. 

 

Agora, novamente através de um relatório PISA, da OCDE, surge a demonstração de que a narrativa com a qual o Ministério da Educação e Ciência contava não adere minimamente à realidade. Apesar de continuar abaixo da média dos países da organização, Portugal continuou a progredir em leitura e matemática na sequência das reformas desenvolvidas na última década, revelando um sistema educativo em melhoria, algo que mereceu um reparo elogioso no relatório. Simultaneamente, a Suécia, um dos modelos apregoados pela atual maioria como fonte de inspiração para as reformas "libertadoras" do sistema, privilegiando a liberdade de escolha e a inevitável transferência de recursos da escola pública para o setor privado, volta a piorar a sua posição realtiva nas avaliações mais relevantes. 

 

Em suma, com argumentos sólidos como estes, que já ninguém consegue apresentar como mera propaganda manipulada pelo spin governativo de José Sócrates, ainda se consiga ir a tempo de travar a única implosão a que Nuno Crato efetivamente se dedicou: a da qualidade do ensino. Ou isso, ou preparemo-nos para que as próximas gerações, com grande exigência e rigor, como no antigamente, passem a decorar as estações de serviço das auto-estradas ou as estações de metro de Lisboa e Porto (uma vez que o sistema ferroviário, em desmantelamento como se encontra, já não se serve para alimentar exercícios de memorização como dantes). 

 

 

PS: Mais detalhadamente sobre o relatório, o claríssimo texto do Hugo Mendes, no local habitual

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publicado às 09:25

Meltdown no Ensino Superior

por Pedro Delgado Alves, em 20.11.13

 

Ontem, em Braga, o novo Reitor da Universidade do Minho não se deixou adormecer pela solenidade da sua tomada de posse e desferiu certeiras farpas na direção do Ministro da Educação, que tem vindo a asfixiar lentamente a capacidade de universidades e politécnicos desempenharem a sua missão. Minutos antes, o insuspeito Laborinho Lúcio, presidente do Conselho Geral da instituição, afinara pelo mesmo diapasão. 

 

Presente na cerimónia, Nuno Crato reagiu e exigiu não só que as universidades trabalhassem mais, mas também melhor. Não sei se o terá dito expressamente, mas trata-se da recorrente conversa do "mais e melhor com menos", desafiando simultaneamente a lógica e a matemática que deveria dominar. 

 

Hoje, o Conselho de Reitores (CRUP), cuja paciência e disponibilidade para o diálogo construtivo têm marcado as relações com o Governo, foi claro em dizer que chega. Depois dos cortes e cativações do ano passado, de restrições sufocantes às carreiras e à concretização do regime transitório dos novos Estatutos das Carreiras Docentes Universitária e do Politécnico, de nova dose de cortes e cativações no Orçamento retificativo e de uma alteração total dos pressupostos fixados em Agosto na preparação do Orçamento para 2014, que priva as instituições de mais de 30 milhões (a que acrescem os cerca de 10 milhões de cortes equivalentes no Politécnico), o CRUP entendeu que não há condições para diálogo quando o interlocutor principal não o aborda com seriedade ou, pelos menos, não tem autorização das Finanças para o fazer.

 

A esta realidade acresce ainda a completa desorientação quanto ao redesenho da rede de instituições, medida anunciada desde a posse do Governo em 2011 sem que uma única linha de orientação tenha sido dada conhecer a universidades e politécnicos desde então, sem que um estudo tenha sido desencadeado pelo Governo (valendo a intervenção autónoma das próprias instituições) e sem que se consiga retirar uma ideia clara do famoso guião de Paulo Portas, que lhe faz breve alusão. Arredado do processo, o CRUP fecha a porta simbolicamente através da demissão do Prof. António Rendas. 

 

Dir-me-ão: porque há o ensino superior de ser especial, porque há de escapar aos cortes? Lá vem o gajo com conversa corporativa a defender a área dele. Respondo facilmente, exposta a declaração de interesses: mesmo em contexto de consolidação orçamental, a educação, toda ela, tem de ser poupada, senão mesmo reforçada, uma vez que representa a derradeira oportunidade de criar verdadeira competitividade, a que interessa, assente no conhecimento e não em salários de miséria. O ensino superior, em particular, enfrenta o desafio adicional da corrida atrás do prejuizo das baixas qualificações superiores, da necessidade de cumprimento das metas que a Europa fixou para 2020 (sim, a esquizofrénica UE que desenha uma estratégia para aumentar os diplomados e depois exige cortes em todas as funções sociais do Estado) e da imprescindibilidade de não recuar no progresso que conseguimos alcançar em matéria de investigação cientifica na última década. 

 

Para quem pensava que "só" teríamos de enfrentar cortes complicados no setor do ensino superior, e que a fatia de leão do programa ideológico de Nuno Crato estava reservado para o ensino básico e secundário, desengane-se. O cenário é bem pior: por estes lados, nem estratégia há...

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publicado às 00:35

Old school

por Pedro Delgado Alves, em 07.05.13

 

Hoje, em todo o País, sem um estudo que o sustente, sem um exemplo comparado que o valide, sem um rumo que não uma vontade de parecer que se é particularmente rigoroso, regressaram os exames da 4.ª classe.

Obrigando alunos a deslocar-se dezenas de quilómetros para uma escola que não é a sua.

Desconfiando dos docentes, afastando-os da vigilância dos seus alunos.

Recuando pedagogicamente umas valentes décadas. 

 

Já não basta aquilo que a crise e os aluncinados que gerem as finanças nos reservam. Temos ainda de assistir à auto-flagelação do sistema educativo provocada pelos mitos e preconceitos de quem tomou conta da 5 de Outubro, hipotecando ainda mais um futuro já incerto.  

 

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publicado às 17:24





Filibuster, subs.

1. Utilização de tácticas de obstrução, tais como o uso prolongado da palavra, por membros de uma assembleia legislativa de forma a impedir a adopção de medidas ou a forçar uma decisão, através de meios que não violam tecnicamente os procedimentos devidos;

Filibuster, noun
1. The use of obstructive tactics, such as prolonged speaking, by a member of a legislative assembly to prevent the adoption of measure or to force a decision, in a way that does not technically contravene the required procedures;

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