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Voltarei a este assunto mais aprofundadamente em breve, pois a controvérsia é mais que muita (sucessivas alterações a prazos, regulamentos, etc.).
Para já é importante focarmo-nos nos números que, por muito manipulados, enviesados na divulgação e outros tuques estatísticos, são como o algodão - não enganam.
Assim, e usando 2 pequenos gráficos elaborados pelo jornal Público, pode-se constatar facilmente a amputação à ciência e à formação avançada.
Deixo também um link com a notícia em que o Primeiro-Ministro nega a diminuição do apoio à Ciência.
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/passos-coelho-nega-corte-nas-bolsas-de-doutoramento-1620055
Já nem se esconde, nem se sussura em reuniões à porta fechada. A agenda de implosão da escola pública e de recuo na aposta no ensino para todos é assumida e está aí em todo o seu despudorado esplendor, pela mão da Juventude Popular, sempre alerta para as necessidades de todos os jovens.
Não devemos estranhá-lo. Afinal, insistir em 12 anos de escolaridade é de facto um disparate, o que têm o jovens a ganhar com mais qualificações? Isto está tão fácil de arranjar emprego, o País tem resultados bem acima da média dos seus parceiros Europeus e da OCDE em frequência do ensino secundário e superior, somos hiper-competitivos e temos professores bem a menos do que precisamos. Até é de estranhar que só agora estes patrióticos promotores do desenvolvimento se tenham lembrado de acabar com este regabofe educativo.
E, repare-se, é uma proposta muito bem fundamentada, invocando-se precisamente a "liberdade de aprender" enquanto "direito fundamental de cada pessoa" para recuar na obrigatoriedade da escolaridade (desde que se leia, apesar de tudo, "de cada pessoa que consiga pagar").
Andámos a estudar acima das nossas possibilidades e agora, graças ao ajustamento purificador que temos o privilégio de atravessar, podemos voltar a ser tão ignorantes como éramos nos tempos em que imperavam os valores tradicionais, em que cada um sabia o seu lugar e em que toda a gente escolarizada sabia as estações do caminho-de-ferro de Benguela.
Os últimos dias não têm sido famosos para Nuno Crato, demonstrando que não basta agrupar lugares-comuns revivalistas sobre o sistema educativo e embrulhá-los num discurso libertador das anatemizadas Ciências da Educação, repetindo o mantra rigor até à exaustão do interlocutor.
Depois de ter feito perder a cabeça aos reitores, encostados mais uma vez às cordas por um orçamento feito todinho no Terreiro do Paço perante a passividade de um titular da pasta da Educação que não consegue fazer prevalecer a ideia de que há alguma utilidade económica em não arruinar o sistema de ensino superior, seguiu-se a resistência intensa à prova de acesso para docentes contratados, que apenas algum bom-senso parcial de última hora permitiu travar na sua escala mais absurda, que apontava para a sujeição de docentes com anos de experiência e várias vezes avaliados a uma prova injustificada mesmo para quem pretende aceder à carreira.
Agora, novamente através de um relatório PISA, da OCDE, surge a demonstração de que a narrativa com a qual o Ministério da Educação e Ciência contava não adere minimamente à realidade. Apesar de continuar abaixo da média dos países da organização, Portugal continuou a progredir em leitura e matemática na sequência das reformas desenvolvidas na última década, revelando um sistema educativo em melhoria, algo que mereceu um reparo elogioso no relatório. Simultaneamente, a Suécia, um dos modelos apregoados pela atual maioria como fonte de inspiração para as reformas "libertadoras" do sistema, privilegiando a liberdade de escolha e a inevitável transferência de recursos da escola pública para o setor privado, volta a piorar a sua posição realtiva nas avaliações mais relevantes.
Em suma, com argumentos sólidos como estes, que já ninguém consegue apresentar como mera propaganda manipulada pelo spin governativo de José Sócrates, ainda se consiga ir a tempo de travar a única implosão a que Nuno Crato efetivamente se dedicou: a da qualidade do ensino. Ou isso, ou preparemo-nos para que as próximas gerações, com grande exigência e rigor, como no antigamente, passem a decorar as estações de serviço das auto-estradas ou as estações de metro de Lisboa e Porto (uma vez que o sistema ferroviário, em desmantelamento como se encontra, já não se serve para alimentar exercícios de memorização como dantes).
PS: Mais detalhadamente sobre o relatório, o claríssimo texto do Hugo Mendes, no local habitual.
Mais notícias sobre a tranquilissíma revolução em curso na Educação em Portugal.
Depois de a disciplina de Formação Cívica ter deixado de ser de oferta obrigatória na revisão curricular do Ensino Básico e Secundário implementada por Nuno Crato, ficámos a saber esta semana que, aparentemente, a nova religião cívica do empreendedorismo parece ter conseguido foros de cidade e espaço obrigatório graças ao labor de Pires de Lima. Bom, talvez não tanto, porque parece que se esqueceram de perguntar ao Ministério da Educação...
Para o autor da ideia, esqueçam lá isso de formar cidadãos e cidadãs, o que é prioritário é gerar fornadas de empreendedores, Homens e Mulheres Novos moldadinhos na forma do guru/embaixdor do "bater punho", Miguel Gonçalves.
Para que não fiquem dúvidas, nem venham aí saraivadas contra um putativo menosprezo meu pelo tema, nada tenho contra a inclusão de conteúdos relativos à educação económica, à literacia financeira ou mesmo ao empreendedorismo nos curricula (como aliás resulta das atuais orientações sobre educação para a cidadania, a tal que deixou de ser de oferta obrigatória). Uma disciplina de Educação Cívica abrangente e plena deve ter isso e bastante mais, desde educação para os direitos fundamentais, educação ambiental e para a saúde, noções fundamentais sobre a instituições democráticas, entre outros temas. Subordinar o seu perfil essencial a conteúdos complementares é que revela a ausência de noção de quais os valores a transmitir prioritariamente pela escola.
Pelo meio, continuamos a não conseguir encontrar responsável algum no Ministério da Educação que explique qual será, na falta da Educação para a Cidadania, o espaço curricular adeqaudo para a introdução de um trabalho fundamental, previsto no IV Plano Nacional para a Igualdade, que a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género tem comtinuado a desenvolver, como lhe compete: os guiões para Educação, Género e Cidadania (já disponíveis para o pré-escolar e todos os ciclos do ensino básico).
E para quem ache que estou só mal-disposto, a caricaturar e a exagerar as leituras de (mais) um caso de descoordenação entre membros do atual Governo, lembrem-se daquele debate parlamentar em que a maioria anatemizou a ideia de ensino da Constituição nas escolas públicas proposta pelos Verdes, como se a sugestão fosse equiparável a ensinar os princípios fundamentais da ideologia juche aos alunos portugueses. Mais do que mil descoordenações e respostas evasivas quanto ao futuro da Educação para a Cidadania, esse debate vale como demonstração à saciedade da visão que o Governo e a maioria têm do assunto (com honrosas execeções, como foi o caso de Mota Amaral, que votou a favor do projeto de resolução).
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