por David Areias, em 27.06.13
A aceitação da greve como direito, como forma de protesto e como argumento negocial dos trabalhadores já viu melhores dias. Parece-me que há duas atitudes fundamentais a contribuir para o seu enfraquecimento.
Um linha passiva, de descrença. Daqueles que, acreditando na greve como direito de qualquer trabalhador, deixaram de crer que a mesma produza algum efeito útil e aos poucos têm vindo a baixar os braços e a resignar-se com a incapacidade de produzir qualquer mudança. Seja com a greve, seja com qualquer outro tipo de protesto.
Um linha activa, de manso pudor. Daqueles que não acreditam verdadeiramente na greve como direito, por violar o velho princípio de "o país precisa é de quem trabalhe". Mesmo que o não assumam publicamente. Afinal, fica mal pôr em causa o direito à greve, haja pudor. Mansamente, esta linha revela a pragmática atitude de reafirmar sempre a existência do direito à greve, ignorando as reivindicações que suportam qualquer greve que seja feita, porque qualquer greve passa - "os trabalhadores têm direito à greve, mas...", "a greve é um direito constitucional que respeitamos, mas..."
Há vários factores a contribuírem para esta separação. A apropriação da linguagem dos direitos dos trabalhadores pela esquerda, conveniente quer à esquerda quer à direita. A postura de (pelo menos aparente) habitual intransigência e irrealismo das organizações sindicais. A ideia de que a greve não produz efeitos e a consequente ideia de que acaba por causar mais prejuízo colectivo do que benefício. A ideia de que a greve é algo reservado aos trabalhadores do Estado. A ideia de que a greve é algo reservado aos trabalhadores por conta de outrem. O cansaço de uns, a vingança de outros.
A consciência histórica dos direitos de quem trabalha é diminuta. Já ninguém sabe a origem, a justificação e o quanto se teve que lutar pelas oito horas de trabalho diário, pelo direito a uma retribuição digna, pelo direito a férias, pela proteção na maternidade e pela não discriminação em função do sexo.
Somos hoje uns parolos do capitalismo. Falamos em trabalhar mais sem pensar em compensar quem mais e melhor trabalha. Falamos em empreender sem levantar os obstáculos a quem quer criar o seu negócio. As desigualdades, o fosso entre ricos e pobres aumenta e aumentará. Até ao dia em que tivermos de reaprender os nossos direitos como trabalhadores. Porque todos somos trabalhadores.
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