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Depois do meltdown do Partido Democrático italiano que conduziu à demissão de Bersani e à reeleição de Napolitano (no meio do caos, uma solução de alguma estabilidade, melhor do que as alternativas, mas que evidencia a impossibilidade total do sistema político italiano em se renovar), a dimensão do perigo e da irresponsabilidade do populismo de Beppe Grillo tornou-se mais evidente, na recusa da legitimidade da reeleição, nas alusões a um golpe de Estado e no apelo à necessidade de uma nova marcha sobre Roma (ciente do impacto simbólico das palavras que usou).
Hoje de manhã, surge a indigitação de Enrico Letta, n.º 2 do Partido Democrático, para formar governo, no que poderá ser um tripartido PD, Berlusconi e Monti, numa lógica de grande coligção para superar as crises. No entanto, parece-ne que o cheiro a eleições para breve não saiu do ar, num momento em que surge Berlusconi a liderar sondagens, o PD a cair e Grillo a sobreviver e a progredir.
Para além do caos final que resulta de um parlamento dividido e sem matemática coligatória, todo o rasto da campanha é francamente desolador, com destaque para o discurso e para o modelo eleitoral que ajudou a agravar o desfecho.
Quanto ao discurso, não poucas vezes resvalou para a agitação de fantasmas anti-europeus (começando por Beppe Grillo, que defende a saída da Itália do Euro) e anti-germânicos (trazendo-nos à memória o Berlusconi acossado em Estrasburgo a chamar guarda de campo de concentração a Martin Schulz). Mais do que abrir caminho para inovação, entricheirou as lideranças em buracos dos quais dificilmente podem sair para construir um governo minimamente aceitável.
Quanto ao processo eleitoral, tornando o cozinhado ainda mais explosivo, a experimentação eleitoral que procura inventar sistemas que produzam estabilidade acabou por oferecer um bónus à ingovernabilidade. Eis o resultado de procurar mexer no sistema eleitoral para resolver problemas que não foram causados pelo sistema eleitoral, nem se resolvem com artifícios esquemáticose de mais do que duvidosa democraticidade. As doenças dos sistemas políticos em quebra de credibilidade não são as formas de eleger os titulares de cargos políticos, mas sim a falta de soluções, de credibilidade ou renovação desses mesmos titulares.
Num contexto de quase caos político, de cavalgada de populismos antigos e novos, de crise financeira em potencial regresso, a Itália pode, pelo menos, apresentar uma vantagem em relação aos nossos póprios problemas (alguns mais graves, outros menos, sublinhe-se). Tem pelo menos um Presidente da República digno desse nome, inteligente e com capacidade de distinguir o acessório do essencial, e que provavelmente representa uma das poucas garantias de uma saída menos má nos seus últimos meses como Chefe de Estado, apesar dos muitos constrangimentos que o seu fim de mandato lhe colocam. Um Presidente num sistema parlamentar que bem podia inspirar lusos semipresidencialismos.
Só nos resta mesmo desejar Buona fortuna, signore Napolitano!
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