Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Loucos dias

por Pedro Ângelo, em 03.07.13

Quando nada o faria esperar, o País foi surpreendido com a demissão dos dois únicos Ministros de Estado deste decrépito governo, primeiro Gaspar e depois Portas. Se a saída do primeiro era há muito aguardada, e até expectável face ao falhanço de todas as previsões macroeconómicas do seu programa de ajustamento, pese embora ninguém esperasse que o fosse nesta oportunidade, a saída do líder do partido parceiro da coligação terá certamente deixado atónito o mais próximo colaborador.

Vejamos a sucessão de factos. A meio da tarde de segunda-feira chega às redacções a notícia da demissão do Ministro de Estado e das Finanças, Vitor Gaspar, notícia que foi rapidamente confirmada pelo executivo. Por ridículo da situação, os anunciados briefings do Governo, criados para articular a informação a veicular e resolver os problemas de comunicação, tinham sido iniciados nessa manhã, sem que esta menosprezante informação fosse divulgada. Não há explicação para a omissão desta informação, tanto mais que uma das participantes nesse briefing era precisamente Maria Luís de Albuquerque, promovida a nova Ministra das Finanças durante a tarde. Ao fim da tarde, somos brindados com uma inédita carta pública do Ministro demissionário Vitor Gaspar, em que explica as razões do seu abandono, desferindo subtilmente violentos golpes quer ao parceiro da coligação, quer à liderança do governo.

Nesse mesmo dia à noite, ocorreu o agendado Conselho Nacional do CDS/PP. Ainda que as reuniões das cúpulas partidárias não sejam à porta aberta, o que transpirou para fora foi que Paulo Portas optou por conduzir os trabalhos na discussão do próximo congresso e na preparação das próximas eleições autárquicas, sem referência ao sucedido naquela tarde relativamente a um facto de somenos importância, a demissão do Ministro das Finanças, que muitos consideravam na prática ser o verdadeiro chefe de Governo.

Ora, este é mais um facto a relevar e a justificar a estupefacção com que os partidários do MNE mais próximos devem ter ficado na tarde de ontem. Paulo Portas resolve demitir-se sem aviso prévio aos seus mais próximos? Quando houve inclusive uma reunião do órgão máximo do partido entre congressos na noite anterior?!

Terça-feira de manhã, Portas informa Passos Coelho da sua intenção de abandonar o Governo, motivada alegadamente na discordância manifestada no dia anterior ao próprio quanto à escolha da nova ministra para assumir a pasta das finanças.

É entre a manhã e a tarde que se passa novo facto grave. O Presidente da República, numa das poucas aparições públicas que agora faz, é confrontado pelos jornalistas sobre a instabilidade no seio do Governo com a demissão de Vitor Gaspar. Replica pugnando que a demissão do Governo passará necessariamente por uma votação nesse sentido no local considerado adequado pelo próprio, a Assembleia da República. Face a estas declarações, só se pode admitir que a decisão de Paulo Portas em abandonar o Governo tinha sido sonegada ao Presidente da República, o que não é grave, é antes gravíssimo. Passos Coelho e Portas permitiram que o Presidente da República passasse por uma figura deprimente, de quem já nada sabe, nada arbitra ou modera, ou seja nada controla.

 Às 20h desta longa terça-feira, o Primeiro-Ministro entra em directo nas televisões com uma declaração que só pode ser adjectivada como patética. Faz finca-pé e diz que não aceita a demissão do seu Ministro de Estado e líder do partido parceiro da coligação. Todos percebemos que se deu início à encenação da responsabilização da queda do Governo. Ninguém quer ficar com o odioso de ter sido o responsável pelo fim da coligação e a precipitação de eleições. Mas mais do que isso, ninguém deseja ficar com a responsabilidade do segundo resgate, da subida das taxas de juro, do desperdiçar dos esforços dos portugueses nos últimos dois anos e de novas medidas de austeridade, que se adivinham ser ainda mais violentas.

Não me imaginava a fazê-lo, mas é hoje oportuno evocar Sá Carneiro quando afirmou:

“O nosso Povo tem sempre correspondido nas alturas de crise. As elites, as chamadas elites, é que sempre o traíram…”

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 12:45

A Culpa é sempre de outros

por Pedro Vaz, em 29.05.13

  Na política portuguesa, os "actores" sempre tiveram a mania de enjeitar as suas responsabilidades. Nunca há culpa de ninguém. Quando a há é sempre de outros. Normalmente é sempre de quem nos antecedeu, desde que sejam de outro partido.

 

Vem isto a propósito da notícia divulgada há pouco pelo público com o título sugestivo de "GASPAR: PORTUGAL NEGOCIOU MAL O PRIMEIRO MEMORANDO COM A TROIKA".

 

É sempre muito chato fazer o exercício de memória. Mas lá vai ter que ser novamente. Felizmente a internet hoje é uma preciosa ajuda.

 

 

Relembrando então o enviado especial da Alemanha para Portugal, em Maio de 2011, mais concretamente a 9 de Maio de 2011, na apresentação do seu programa eleitoral, disse Pedro Passos Coelho (então candidato e hoje Primeiro-Ministro):

 

 "Este programa está muito além do memorando da Troika". 

 

Disse mesmo mais:

 

O líder do PSD disse que não se trata de "um programa cor-de-rosa construído na estratosfera", adiantando que "traz medidas duras". E deixou várias críticas ao Governo na introdução do programa eleitoral: "Portugal está hoje com a maior dívida pública de que há memória". Passos Coelho referiu ainda que "o país tem um nível de desemprego que ameaça a coesão e a justiça social". Para o líder do PSD, é necessário colocar a economia portuguesa "a crescer".


 

Mais tarde a 6 de Junho de 2011 (fará daqui a uns dias 2 anos precisos) em entrevista à agência reuters foi noticiado um pouco por todo o lado a firme convicção do nem mais tempo, nem mais dinheiro e que o Governo iria para além do memorando, conforme poderemos ver nos link em baixo:

 

http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1871701

 

 

Agora 2 anos depois. Depois de falhar todas as previsões e projecções. Depois de terem custado milhares de empresas e empregos. Depois de terem asfixiado o país, a culpa afinal é do primeiro memorando, que sofreu 7 alterações. todas da exclusiva responsabilidade do Governo.

 

Foi-nos sempre dito que tudo corria bem, que o "ajustamento" estava a ir que nem uma maravilha. No entanto e tendo-se tornado à vista de todos aquilo que é evidente há muito, que nada está a correr bem. Agora a culpa é do primeiro memorando, o tal que era insuficiente na óptica de Coelho & Gaspar. 

 

Admitamos que sim, que a culpa é do primeiro memorando. Então porque é que teimaram em ir para além dele e terem exigido aos portugueses muitos mais sacrifícios que os que estavam previstos inicialmente. Quando a política não é a correcta, muda-se a política não se agrava.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:03

Tango

por Pedro Ângelo, em 16.04.13

 

 

Passos Coelho convidou António José Seguro para dançar o tango. O Primeiro-Ministro fez questão de endereçar o convite de forma solene mediante o envio de uma carta, tendo inclusivamente feito questão de dar conhecimento público do teor da mesma. Não é de todo inocente a mensagem política que pretende passar.

Após elevar a fasquia com a apresentação da moção de censura e promessas de ruptura (total!?) com o Governo, aguarda-se pela réplica do Secretário-Geral do PS.

Será que se deixa enredar pela novel estratégia gizada por este governo de iniciativa presidencial?

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:00

Impulso Jovem

por Pedro Vaz, em 10.04.13

 

 

 

 

 

Andava há dias para escrever sobre o Programa do Governo Impulso Jovem e o embuste que o mesmo é.

 

Mas o Governo da República decidiu dizer-nos a todos o que verdadeiramente entende sobre a sua importância ao extingui-lo.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 16:20

SMN

por Pedro Ângelo, em 19.03.13

Ainda a propósito da polémica sobre o aumento do salário mínimo nacional, parece que, na reunião de hoje da concertação social, os parceiros acordaram apresentar em conjunto uma proposta que visa o aumento do salário mínimo nacional.

Perante isto, com que face fica o PM quando no Parlamento preconizou uma política contrária?

Qual terá sido a opinião veiculada pelo Ministro da Economia na reunião de hoje?

Cairá esta proposta em saco roto? Ou terá consequências nas negociações com a troika?

Para já, o Governo remete-se ao silêncio, escudando a sua opinião. Mas seria caricato recusar uma proposta consensualizada por sindicatos e patrões...

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:02

Revelador

por Pedro Ângelo, em 08.03.13

No debate quinzenal desta semana, quando confrontado com a proposta concreta apresentada pelo PS para o aumento do salário mínimo nacional como forma de combate à pobreza e apoio à estimulação da procura interna, o Primeiro-Ministro disse que a medida mais sensata para combater o desemprego seria precisamente a inversa, baixar o salário mínimo.

Ora, uma vez mais, Passos Coelho perde-se em adjectivos reveladores da sua agenda ideológica. De tal forma, que o PSD se apressou em contextualizar as declarações numa tentativa inglória de infirmar aquilo que foi categoricamente proclamado, evitando possíveis danos daí decorrentes.  A afirmação da ideia foi clara, se o pudesse fazer, o Primeiro-Ministro baixava o salário mínimo. Mas ainda bem que há alguém, ou pelo menos uma parte do PSD, que não se revê nesta deriva experimentalista e ultra liberal da agenda de Passos Coelho e que tenha o bom senso de perceber o contexto do momento em que vivemos, para ir a correr prestar declarações interpretativas das palavras proferidas de modo a que as pessoas permaneçam serenas.

É que, após a manifestação de sábado, sensato é tudo menos incendiar os ânimos com declarações provocatórias deste calibre. Já para não falar na dissonância no interior do próprio Governo. Tenhamos presente que, ainda na semana passada no debate de urgência, Portas e Gaspar demonstravam existir latitude para acolher algumas das propostas socialistas para dinamizar a economia. Parece que, afinal, não haverá a abertura para essa convergência e para a inclusão dessas propostas.

 

Sucede que Passos Coelho com estas declarações volta a desvendar as suas verdadeiras ideias e a política económica que perfilha para o país, porque é disso que se trata. Não bastavam já as polémicas afirmações, dizendo que o caminho para a recuperação era o empobrecimento, condenando-nos com ligeireza a vivermos mais pobres para podermos sair da crise.

O caminho traçado é este, uma política de baixos salários para reganharmos a competitividade perdida ao longo das últimas décadas com o fenómeno da globalização da economia, a integração dos países de leste na comunidade europeia e a entrada de países emergentes nos acordos da Organização Mundial de Comércio. Ou seja, a solução passa por um regresso ao passado, em que Portugal se deve tornar competitivo através de uma substancial redução do factor produtivo trabalho.

Esta é a visão de futuro para um país que está no lote dos países desenvolvidos, mas que olha para trás e almeja concorrer directamente com os países em vias de desenvolvimento. É este o modelo de prosperidade e desenvolvimento económico que nos é apresentado por Passos Coelho. A preconização deste modelo económico encerra em si mesmo uma ideia de desvalorização do factor trabalho na economia, remetendo-o para um lugar menor e subjugando a outros factores como o capital.

 

Não podendo estar mais em desacordo com essa visão depreciativa do trabalho, advogo outra(s) solução(ões) para sair da grave crise instalada na Europa. E essa passará necessariamente por uma alteração da estrutura produtiva, onde se passem a criar produtos de valor acrescentado, por uma continuada aposta na qualificação dos portugueses e pela criação de nichos de mercado verdadeiramente diferenciadores e competitivos face às demais economias nacionais.

Vamos investir em quê? Vamos produzir e comercializar o quê? Esta devia ser a discussão central e urgente, concretizando ideias e medidas que nos levassem de novo aos trilhos do crescimento económico.

Enquanto isso deveria ser feito, assistimos diariamente à discussão do défice, das taxas de juro e dos mercados, que, diga-se, o comum dos portugueses pouco ou nada percebe e não se sente minimamente convocado para o debate. Bem sei que é fundamental e necessário repor as contas em dia e regressar ao financiamento directo dos mercados o quanto antes, readquirindo a confiança dos investidores, condição prévia e essencial para termos novamente crescimento.

Mas era bom (diria mesmo crucial) que, de uma vez por todas, parássemos para pensar no país de amanhã e na política económica que deve ser hoje encetada para lá chegarmos.

 

P.S. –Não podia deixar de referir o seguinte, entre 2004 e 2011, o salário mínimo nacional subiu de € 365 para € 485, um aumento de de € 120, que representa um acréscimo de 32% em termos nominais, no limiar de 1/3 de subida.

Este aumento foi possível através de um acordo em sede de concertação social,  entre o anterior Governo PS e os parceiros sociais. O acordo previa um aumento faseado do salário mínimo até aos € 500 em 2011, que não se concretizou pelos motivos conhecidos.

Seria oportuno o actual executivo retomar esse acordo, aprovando um singelo aumento de € 15 para estimular a economia interna e também para mobilizar os portugueses.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 01:30





Filibuster, subs.

1. Utilização de tácticas de obstrução, tais como o uso prolongado da palavra, por membros de uma assembleia legislativa de forma a impedir a adopção de medidas ou a forçar uma decisão, através de meios que não violam tecnicamente os procedimentos devidos;

Filibuster, noun
1. The use of obstructive tactics, such as prolonged speaking, by a member of a legislative assembly to prevent the adoption of measure or to force a decision, in a way that does not technically contravene the required procedures;

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Comentários recentes



Arquivos

  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2014
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2013
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D