por David Areias, em 25.04.13

Luciano Violante
Politica e Menzogna
Giulio Einaudi Editore, 2013
"Quem exerce um poder político deve saber que os cidadãos têm direito de questionar as razões das escolhas no exercício das suas responsabilidades e que ele tem o dever de fornecer as explicações pedidas. Este é um ponto crítico da democracia italiana porque no nosso costume prevaleceu durante longuíssimo tempo a tolerância para com os comportamentos impróprios dos políticos; apenas se pedia a conta quando um político se encontrava em dificuldades e o pedido equivalia a uma condenação sumária: valham-nos os casos de Bertino Craxi e de Silvio Berlusconi. A antiga tolerância transforma-se em rancor e o rancor transforma-se em comportamentos demagógicos, que não distinguem mais entre responsáveis e inocentes e consequentemente, como num pogrom, condenam não os comportamentos mas o estatuto.
Tem-se definido este comportamento como 'indignação', mas de facto o termo é impróprio porque na história a indignação gerou, além do repúdio dos comportamentos incivilizados e dos seus autores, seja mobilização colectiva, seja atenção sobre as vítimas, seja empenho na mudança. Ao invés, em Itália manifestam-se cada vez mais outros sentimentos: desprezo pelos outros e orgulho em si próprio, como ressentimento. O indignado critica e mobiliza-se, o ressentido despreza e fecha-se em si mesmo. O indignado revolta-se contra aqueles que cometeram os abusos; o ressentido volta-lhes as costas. Os limites são certamente subtis e os dois sentimentos podem conviver. Mas é preciso não confundí-los. A indignação é um sentimento prevalentemente positivo porque é projectado para a mudança. Pelo contrário, o ressentimento leva ao insulto, ao turpilóquio, a um sentido de absoluta superioridade no confronto com os 'outros', considerados incapazes e inferiores. O indignado, pelo contrário, tem uma determinada política, favorece uma política diversa; traz consigo uma componente racional porque reconhece a complexidade dos problemas. Ao invés, o ressentido revolta-se contra a política, porque entende que os problemas são simples mas tornam-se complexos pela corrupção e incapacidade dos políticos. Não faltam forças políticas, homens de cultura, meios de comunicação que, por superficialidade ou para se colocar no espírito do tempo, adulam o ressentimento não o distinguindo da indignação.
Não é este o caminho."
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