por David Areias, em 03.04.13

Jorge Amado
Seara Vermelha
(1. Edição de 1946)
Dom Quixote, 2004
"Quando partia pelas manhãs para a roça, a foice ao ombro, era como um escravo que levasse cadeias aos pés. Aquela terra não era deles, não lhes pertencia, e mesmo o seu direito sobre as plantações de mandioca e milho poderia ser discutido pelo coronel a qualquer momento. O dia de trabalho gratuito para a fazenda parecia-lhe demasiada exploração. Não bastava a obrigação de vender os produtos da roça ao coronel, pelo preço que ele fixasse, e ter de comprar no armazém tudo de que necessitassem? Ouvia histórias de tomada de terra, de crimes, camponeses matando fazendeiros, fugindo pelos matos, outros condenados a largar penas, indo para Fernando de Noronha. Uma sede de vingança e de justića foi o que o impulsionou. Lucas Arvoredo, com seu bando de jagunços, parecia-lhe o destemido vingador da gente sertaneja. A razão estava com ele. Se haviam de trabalhar dia e noite para uma fazenda, nascer e morrer em cima da enxada, sem nenhuma perspectiva, então nada restava a não ser largar tudo, tomar uma repetição, e ir cobrar nas fazendas e nas cidades o que - segundo Nenen - lhes era devido."
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