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Se dúvidas houvesse da total incapacidade demonstrada pelo Ministro da Economia e do Emprego e pelo Secretário de Estado dos Transportes e das Comunicações, o anúncio do novo Terminal de Contentores na Trafaria é a prova final de que não sabem o que estão a fazer no Governo.
Este anúncio é a demonstração do reconhecimento do Governo que a política económica levada a cabo até aqui é desastrosa e não nos trouxe a lado nenhum. Um Governo que desprezou qualquer tipo de investimento público que estava previsto, e até orçamentado, e decidiu parar tudo, mesmo o que comprovadamente melhorava a competitividade nacional, com grande prejuízo para o Distrito de Setúbal, vem agora anunciar um investimento, sem qualquer critério, de mil milhões de euros num Terminal de Contentores da Trafaria.
A primeira pergunta que qualquer pessoa faz, ao tomar conhecimento do projeto e do investimento, é: porquê um Terminal de Contentores na Trafaria? Não se questiona sobre a necessidade de investir no Distrito de Setúbal e em particular na Trafaria. Muito importante seria que se investisse naquele território e se encontrassem formas de gerar emprego numa terra e numa região que estão a ser prejudicadas porque se cancelaram vários projetos de investimento que estavam previstos como a linha ferroviária para Sines, o TGV, a terceira travessia, o novo aeroporto e muitos outros investimentos em equipamentos sociais. Será que este é o investimento mais racional e mais necessário para que a economia gere mais emprego?
Não só nos devemos questionar sobre o impacto que um novo terminal de contentores na Trafaria terá na restante atividade económica e portuária da Área Metropolitana de Lisboa, Distrito de Setúbal e Lisboa, porque pode tornar o transporte de mercadorias mais demorado e mais caro, porque a zona não está preparada para as cadeias logísticas se instalarem, porque a maioria das mercadorias, até para exportação, têm como destino a margem norte, porque agrava as externalidades ambientais negativas na zona com impacto no turismo da Costa da Caparica, como devemos constatar que o investimento tem o mero objetivo de substituir a atividade portuária de Lisboa, ou seja, não visa criar novos postos de trabalho e nova atividade económica, apenas substituir existente.
A decisão de libertar a movimentação de carga da zona de Santa Apolónia para dar outra dimensão ao Terminal de cruzeiros é correta, mas substituir toda a atividade portuária em Lisboa teria um impacto económico e no emprego imprevisível, porque não assegura a reabilitação urbana e dinamização económica nas áreas do porto, criando um problema ainda maior. Estamos a fazer experimentalismo económico perigoso e mesmo que tivéssemos 6% de desemprego e estivéssemos a crescer, só com uma demonstrada mais-valia económica é que se tomariam decisões com este grau de risco. Não admira por isso que as Câmaras das áreas envolvidas, Lisboa e Almada, bem como a Junta de Freguesia da Trafaria, estejam contra.
Se o Governo finalmente reconhece que é necessário investimento e que o Distrito de Setúbal foi fortemente prejudicado com as suspensões e os cancelamentos dos investimentos previstos então que retome alguns dos investimentos que estavam programados, começando desde logo por acelerar a ligação ferroviária a Sines. Há muito para fazer e não é preciso inventar.
(Artigo igualmente publicado no Portal Setúbal na Rede)
O Ricardo Paes Mamede fez um artigo, no Ladrões de Bicicletas, que relaciona a crise europeia e os seus desequilíbrios externos que recomendo a todos.
O relatório de 15 de Fevereiro do Eurostat sobre a balança comercial da União Europeia é bem revelador dos verdadeiros desequilíbrios europeus. O Relatório refere que a Zona Euro apresenta um excedente comercial de 81.8 bn euros e que a União Europeia apresenta um deficit comercial de 104.6 bn euros.
Lendo o relatório percebemos que dentro da Zona Euro há diferenças gigantes entre os vários países. A Alemanha, que em 2011 representava cerca de 27,5% da economia e 25% da população da zona euro, apresenta uma estimativa para um excedente comercial de 174.6 mil milhões (bn) de euros. Em segundo lugar, e com uma diferença de 130 bn euros face à Alemanha, surge a Holanda com um excedente de cerca de 46 bn euros. Só no último ano, as exportações alemãs cresceram 44 bn euros enquanto as suas importações apenas cresceram 12 bn euros.
Se pensarmos que a Itália representa cerca de 17% do PIB e 19% da população da zona euro, que a Espanha representa cerca de 11% do PIB e 14% da população da zona euro e que os PIGS (excluindo a Irlanda) representam cerca de 32% do PIB e 37,4% da população da zona euro talvez comecemos a perceber a dimensão dos desequilíbrios existentes.
Como é que é possível, olhando para a dimensão do excedente alemão e percebendo que há condições para os produtos dos Sul entrarem nos seus mercados ou mesmo para poderem investir, tentarem fazer-nos acreditar que o único caminho para a recuperação económica da Europa é por via da austeridade e da desvalorização fiscal nos países do Sul da Europa. Até o FMI reconhece, em alguns dos seus papers, que é fundamental acrescentar soluções que incluam maior procura, melhores condições financeiras para pagar a dívida e uma desvalorização do euro (ver pág. 22). É cada vez mais óbvio que os ajustamentos propostos são experiências pouco fundamentadas e com péssimos resultados.
Muitos dos desequilibrios nos países do Sul devem-se a choques externos derivados de decisões europeias, como a maior abertura ao comércio com a China ou o alargamento aos países de Leste, dando sempre vantagem à Alemanha. É por isso que a UE tem de ter mecanismos de transferência dos países da zona euro com maiores excedentes para com os restantes, seja por via de comércio internacional, de investimento, em vez de empréstimos, ou por via de desvalorização da moeda. Sem eles nunca conseguiremos equilibrar esta zona euro nem seremos justos.
A Europa do Sul já não tem capacidade para suportar estas soluções de austeridade e isso ficou patente nas eleições italianas. Os eleitores italianos quiseram derrotar os candidatos que estavam mais próximos de Merkel, quiseram derrotar Monti e não demonstraram confiar em Bersani. Se a Europa não mudar rapidamente o Governo de Bersani durará muito pouco tempo e Berlusconi, que continuará em oposição a criticar o domínio alemão, ficará cada vez mais forte.
Está na altura da Europa do Sul perceber a sua dimensão, a sua representatividade, demonstrar que é capaz de liderar, acabar com estes programas de ajustamento e reequilibrar a Europa.
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