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Entusiasmo Renovado

por David Areias, em 28.09.14

Não há lugar para sebastianismo no Partido Socialista. Mas é notório o entusiasmo renovado de muitos militantes e muitos outros portugueses. Eu sou um deles. Saibamos usá-lo para a construção de uma nova maioria governativa, que nos devolva uma perspetiva de futuro e termine com a política de punição e castigo.

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publicado às 22:09

LEITURAS

por David Areias, em 15.06.14

Almeida Faria
A Paixão
(1. Edição de 1965)
Assírio & Alvim, 2013

"Mães de sexta-feira; não Estela, a criada de dentro, desapossada do núcleo do seu povo, proletariado miserável, sem força, pois lha tiram pela dispersão, cada um para seu lado, os filhos vagueando ao sabor de potências distantes, destrutoras, invisíveis, infrenes, de patrões, empresários, serviço militar, o pai entregue a uma luta algures noutra província, por um naco de terra que não dá para ganhar mas que serve para ir sempre arrastando a mesma iniquidade, terra de pouco pão e sem mulher, sem água que lhe limpe o suor pela noite, junto ao calor do fogo, quando a mulher está longe como um astro, uma estrela, Estela, mãe sem família servindo outra família, avançando ao longo dos anos pelos quartos da casa que lhe não pertence e que não ama, serve, Estela, mulher sem casa, não mãe autêntica"

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publicado às 13:47

LEITURAS

por David Areias, em 15.03.14

Almeida Faria
Rumor Branco
(1. Edição de 1962)
Assírio & Alvim, 2012

"bairro de barracas de lata sobre o rio que corre ali perto, Tejo. em baixo hortas e sebes. dormiam os cinco filhos com os pais numa das divisões, havendo outra com serventia de cozinha, onde comiam, à noite o pai chegou cambaleante. a mãe, vestindo trapos que não lhe aqueciam as ressequidas carnes, aguardava ao canto da chaminé cosendo meias velhas. ao ouvir os passos do marido abrindo bêbado como sempre a pequena cancela do quintal, levantou-se e foi esperá-lo. só a força da fome lhe dá ainda forma de assim se endireitar, tão agressiva, tão firmes na cintura as mãos pacíficas: badameco, desgraçado, farrapo miserável, cara de carago, mal te aguentas no badalo, fizeste-me seis filhos e agora que me amole.

(...)

viram como se pode e deve escrever uma história portuguesa com certeza, com certeza uma história portuguesa? e houve talvez quem chorasse ao lê-la, sobretudo as senhoras burguesas que, como se sabe, têm bons sentimentos."

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publicado às 17:01

LEITURAS

por David Areias, em 13.02.14
[no centenário do nascimento de Cortázar]


Julio Cortázar
Clases de Literatura, Berkeley, 1980
Alfaguara (Colombia), 2013

"Viví em Buenos Aires, desde lejos por supuesto, el transcurso de la guerra civil en que el pueblo de España luchó y se defendió contra el avance del franquismo que finalmente habría de aplastarlo. Viví la segunda guerra mundial, entre el año 39 y el año 45, también en Buenos Aires. Cómo vivimos mis amigos y yo esas guerras? En el primer caso éramos profundos partidarios de la República española, profundamente antifranquistas; en el segundo, estábamos plenamente con los aliados y absolutamente en contra del nazismo. Pero en que se traducían esas tomas de posición: en la lectura de los periódicos, en estar muy bien informados sobre lo que sucedía en los frentes de batalla; se convertían en charlas de café en las que defendíamos nuestros puntos de vista contra eventuales antagonistas, eventuales adversarios. A ese pequeño grupo del que formaba parte pero que a su vez era parte de muchos outros grupos, nunca se nos ocurrió que la guerra de España nos concernía directamente como argentinos y como individuos; nunca se nos ocurrió que la segunda guerra mundial nos concernía también aunque la Argentina fuera un país neutral. Nunca nos dimos cuenta de que la misión de un escritor que además és un hombre tenía que ir mucho más allá que el mero comentario o la mera simpatía por uno de los grupos combatientes. Esto, que supone un autocrítica muy cruel que soy capaz de hacerme a mí y a todos los de mi clase, determinó en gran medida la primeira producción literária de esa época: vivíamos en un mundo en el que la aparición de una novela o un libro de cuentos significativo de un autor europeo o argentino tenía una importancia capital para nosostros, un mundo en el que había que dar todo lo que se tuviera, todos los recursos y todos los conocimientos para tratar de alcanzar un nível literario lo más alto posible. Era un planteo estético, una solución estética; la actividad literaria valía para nosotros por la literatura misma, por sus productos y de ninguna manera como uno de los muchos elementos que constituyen el contorno, como hubiera diacho Ortega y Gasset 'la circunstancia', en que se mueve un ser humano, sea o no escritor."

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publicado às 23:25

A CULPA

por David Areias, em 07.02.14
Portugal não consegue gerar qualquer alternativa política de futuro, nem conseguirá tão facilmente. Não se trata de mudanças nas lideranças do PS ou do PSD, embora isso pudesse ser um bom começo. Trata-se de uma mudança nas nossas expectativas e exigências colectivas que seja reflectida na forma como encaramos o nosso futuro.

Hoje, todo o pensamento individual parece girar em torno de um único problema: o da culpa. E como a culpa nunca é minha, é dos outros.

A culpa é dos que não trabalham, porque eu trabalho: os funcionários públicos, os professores, os políticos, os da RTP, os do Metro, os da Carris, os estivadores.

A culpa é dos que vivem à custa do Estado, porque eu tenho o meu salário: os do rendimento mínimo, os do desemprego, os das novas oportunidades, os presos, os dos subsídios, os militares.

A culpa é dos que não pagam impostos, porque eu nem fugir posso: os empresários, os biscateiros, os médicos, os advogados, os arquitectos, os engenheiros.

A culpa é dos que ganham muito, porque eu ganho pouco.

A culpa é dos estádios, das auto-estradas no interior, das universidades que formam desempregados, das escolas que não exigem dos alunos, dos que têm cunhas e favores, dos que se reformaram cedo.


O discurso político governativo conhece, promove e aproveita está lógica. Sempre assim o fez ao longo da história. Afinal, é de elementar justiça punir os culpados.

Falamos uns contra os outros, mas nunca uns pelos outros. E por isso temos medo de sermos também nós culpados. Medo de sermos os próximos a ser punidos.

Quem ousa hoje levantar a voz pela criança que chega à escola sem comer, pelo jovem que perde a bolsa e não pode continuar a estudar, pelo casal que fica desempregado, pelo reformado ou seja por quem for? Quem ousa hoje sonhar um país melhor e para todos?

A educação, o trabalho, a saúde, a justiça e a dignidade não são regalias, são direitos. Parecemos aspirar a que os outros tenham menos e não a que todos tenhamos mais.

Somos incapazes de qualquer acto ou pensamento solidário entre nós. Somos incapazes de pensar colectivamente. Somos presa fácil de nós mesmos.

Que triste é reconhecer que nesta inquisição de austeridade nos tornámos num país de delatores de judeus, em que só o querer viver dignamente já é heresia.

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publicado às 20:05

LEITURAS

por David Areias, em 11.01.14

Aquilino Ribeiro
Quando os Lobos Uivam
1958

"- A nação é de todos. A nação tem de ser igual para todos. Se não é igual para todos, é que os dirigentes, que se chamam Estado, se tornaram quadrilha. Se não presta ouvido ao que eu penso e não me deixa pensar como quero, se não deixa liberdade aos meus actos, desde que não prejudiquem o vizinho, tornou-se cárcere. Não, os serranos, mil, cinco mil, dez mil, têm tanto direito a ser respeitados como os restantes senhores da comunidade. Era a moral de Cristo: por uma ovelha... Se os sacrificam, cometem uma acção bárbara, e eles estão no direito de se levantar por todos os meios contra tal política."

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publicado às 22:13

O Fantasma da Europa do Natal Passado

por David Areias, em 02.01.14

A União Europeia não está bem e o projecto europeu, tal como foi pensado pelos seus fundadores, está em risco. Confrontada com a maior crise económica e financeira da sua história, a quebra dos laços de solidariedade entre os Estados foi imediata e evidente. Tem-se seguido, discreta e progressivamente, o ressurgimento de velhas e perigosas ideias: a de uma Alemanha controladora; a de europeus incorrigíveis a sul; a de europeus irrepreensíveis a norte; a ideia de culpados; a ideia de vítimas. Tudo isto alicerçado na moral da fábula da formiga e da cigarra, que acaba com o inevitável e merecido castigo desta. Está por saber a profundidade da brecha aberta por estas ideias na Europa democrática que tanto nos custou a construir.

No ano do centenário do início da Grande Guerra, não podemos deixar de iniciar um exercício dickensiano, visitando a Europa do Natal passado. Como e a que ponto chegámos então...


Onde queremos chegar amanhã?

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publicado às 23:39

O BOM EXEMPLO

por David Areias, em 19.12.13

Os professores portugueses foram ontem sujeitos a (mais uma) humilhação. Muitos reagiram a esse acto, demonstrando não se vergar perante o poder que lhes impõe um exame de acesso ao desemprego e uma desqualificação da sua formação e das escolas onde estudaram. Foi um bom exemplo.

Mau exemplo o dos governantes que se indignam perante a reacção dos professores, como se a humilhação do cidadão fosse o normal e o aceitável. Como se o bom exemplo de ontem ainda não fosse suficientemente bom. Continue-se, pois, a exemplificar bem.

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publicado às 20:23

LEITURAS

por David Areias, em 11.12.13

Mark Blyth
Austerity: the history of a dangerous idea
Oxford University Press, 2013

"John Quiggin usefully terms economic ideas that will not die despite huge inconsistencies and massive empirical failures as 'zombie economics'. Austerity is a zombie economic idea because it has been disproven time and time again, but it just keeps coming. Partly because the commonsense notion that 'more debt doesn't cure debt' remains seductive in its simplicity, and partly because it enables conservatives to try (once again) to run the detested welfare state out of town, it never seems to die. In sum, austerity is a dangerous idea for three reasons: it doesn't work in practice, it relies on the poor paying for the mistakes of the rich, and it rests upon the absence of a rather large fallacy of composition that is all too present in the modern world."

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publicado às 23:35

NADIR AFONSO

por David Areias, em 11.12.13

Faleceu hoje, aos 93 anos de idade, o pintor Nadir Afonso. Guardamos a singularidade da sua obra artística e a memória de um homem que sempre foi flaviense e transmontano. Que sempre falou como flaviense e transmontano. Um dos meus.

"Eu sou pintor e também qualquer coisa como atrasado mental; quando paro de trabalhar só me dá para vaguear pelos campos!"

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publicado às 23:17

LEITURAS

por David Areias, em 07.10.13

Fernando Rosas e Cristina Sizifredo
Estado Novo e Universidade: A Perseguição aos Professores
Tinta da China, 2013

"Ainda assim, porque é nas universidades que vamos encontrar, também, algumas das figuras liderastes da oposição intelectual, o Estado Novo não deixará de aproveitar certas conjunturas políticas críticas de maior força, ou de maior perigo, para proceder à limpeza dos remanescentes "espíritos rebeldes" e "inadaptados" das universidades, mesmo que, por vezes, estes nem sequer fossem pessoas com empenhamento político activo. Tratava-se de intimidar, de dar o exemplo, isto é, de reprimir preventivamente a simples atitude e os "excessos" do livre-pensamento. De nenhuma dessas vezes, em 1935, em 1946, em 1947, em 1973, é sabido que alguma instituição ou órgão universitário tenha assumido, por discreto que fosse, o menor gesto de repúdio das acções persecutórias ou de solidariedade para com os perseguidos. Convém, aliás, dizer que alguns dos docentes serão na verdade demitidos por expressarem publicamente o seu protesto contra situações iníquas ou de repressão política de estudantes ou colegas, ou a sua solidariedade para com eles."

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publicado às 23:28

RECORDAR ALLENDE 40 ANOS DEPOIS

por David Areias, em 11.09.13
Pelas 05h45 do dia 11 de Setembro de 1973 iniciava-se a "Operação Silêncio" com a neutralização das comunicações nacionais e a ocupação de universidades, fábricas e bairros de trabalhadores. Menos de nove horas depois, a bandeira branca da rendição surgia no Palácio de la Moneda. Antes de cometer suicídio, o Presidente Salvador Allende dirigia-se pela última vez ao povo chileno com palavras que merecem ser recordadas: "Pagarei com a minha vida a lealdade do povo."



Foi com um golpe de estado violento e radical que se iniciou o consulado de Pinochet, regime repressivo e economicamente ultraliberal, que marcou o Chile com milhares de mortos, desaparecidos, torturados e exilados. Crimes que não podem ficar esquecidos e sem o julgamento a que ainda hoje não foram submetidos.

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publicado às 00:16

SWAP

por David Areias, em 09.08.13
(ou uma breve nota sobre a troca do essencial pelo acessório para eliminar o risco de discussão pública)

O espectáculo degradante que o caso SWAP desencadeou nos últimos meses tem desviado a atenção das duas questões essenciais: primeiro, a descarada promiscuidade entre o poder político e poder financeiro; segundo, a existência de instrumentos financeiros de desavergonhada manipulação das contas do Estado cuja utilização é conhecida e aceite pelo Eurostat.

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publicado às 00:24

LEITURAS

por David Areias, em 31.07.13

Nuno Júdice
A Implosão
Dom Quixote, 2013

"Era nisto que a nova Europa se estava a tornar: os guetos eram os países sob confisco, em cada um deles tinham arranjado governos dóceis que cumpriam as ordens que vinham dos centros de decisão. Não chegáramos à perfeição desses guetos, ao encerramento dos países dentro de muros de onde ninguém podia sair nem entrar; mas era uma questão de tempo, pensava eu, enquanto ia passando por criaturas deitadas debaixo de portas, enroladas em mantas, alguns deles com um rádio ligado, sinal de que não se tratava já dos tradicionais pobres, os que vinham do nada e só tinham o nada para onde ir; estes vinham de meios em que havia o hábito de ouvir rádio, de ver televisão, só que não tinham outra hipótese senão adormecer na rua, com uma estação de música clássica a dar-lhes com o 'Hino à alegria' em cima, para que eles agradecessem à Mãe Europa por essa dádiva do céu; ou então a alternativa que tinham, se não tivessem umas moedas para se sentarem num café, era esperar que nalguma montra estivesse um televisor ligado e ficar em frente, a ver o que se passava no ecrã, mas sem o som que o vidro abafava. Assim, ao menos não tinham de ouvir as notícias, de estar a par da queda de um mundo, que era o que estava a acontecer à vista de todos."

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publicado às 23:33

O ACTO SEGUINTE

por David Areias, em 11.07.13
Improvável, inesperado, imprevisível, inacreditável. Nada descreve com suficiência a política portuguesa nestes dias de Julho de 2013. Ninguém percebe ao certo os eventos que desencadearam esta crise, muito menos o momento em que ela surge.

Não fugindo à norma destes dias, também Cavaco surpreendeu. São tantas as questões como as respostas que resultam da comunicação do dia 10 de Julho. Se percebemos que este Governo perdeu definitivamente a legitimidade de que dispunha, ficamos sem perceber ao certo qual a solução aceitável para que se mantenha em funções. Aqui reside a maior incógnita: até que ponto de intervenção está Cavaco disposto a chegar para evitar eleições antes de Junho de 2014?

Ao tomar esta posição, pode Cavaco estar a assumir algumas das grandes inquietações nacionais: não conseguimos eleger uma alternativa de governo credível num curto espaço de tempo; os líderes que os portugueses parecem desejar para Partido Socialista (António Costa?) e para o Partido Social Democrata (Rui Rio?) muito dificilmente serão apresentados como candidatos pelos seus próprios partidos; não se prevendo maiorias absolutas, o CDS/PP não é de confiança e o Bloco de Esquerda e o PCP não se dispõe a coligações em que não mandem, por menos votos que representem.

Sendo ou não sendo essa a preocupação de Cavaco, o certo é que essas são inquietações que creio partilhadas por uma parte considerável da população e que revelam bem o estado de fragilidade e descrédito em que os grandes partidos se encontram. Ninguém tem ou deve ter medo de eleições, mas todos receamos que delas não consigamos as soluções que desejamos.

Nesta linha questiono-me: o limite de Junho de 2014, enquanto um governo de salvação apoiado pelos partidos que assinaram o Memorando vai segurando o país, não estará pensado também para dar oportunidade aos partidos para se reorganizarem em novas lideranças que possam ser capazes de acordos alargados? Podendo Passos Coelho ter ficado comprometido como líder do seu partido, não será esse o tempo necessário para o PSD (mais dificilmente o PS) encontrar outras soluções? [Para os que nisso acreditam, seria a perfeita vingança sobre o compasso de espera em que Sampaio teria deixado Santana Lopes governar, dando espaço para que uma liderança forte surgisse no PS, a tempo de novas eleições.]

No entanto, se parece certo que Passos Coelho, Portas e Seguro são neste momento inconciliáveis, já ninguém se poderá dizer surpreendido se o acto seguinte for o do reencontro e da concertação.

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publicado às 14:41

FIM DE LINHA

por David Areias, em 09.07.13
Vítor Gaspar fugiu do Governo, dias depois de considerar tranquilizadores os números da execução orçamental. Assumiu que falhou, assumiu que não tem melhor para dar.

Passos Coelho insistiu na política que Vítor Gaspar já não conseguia defender e nomeou Maria Luís Albuquerque para insistir no erro.

Paulo Portas aproveitou o momento e pirou-se. Pirava-se, não fosse o Passos não deixar. Revogou-se, portanto.

Passos ganhava o braço de ferro, não fosse o Portas ele próprio. Remodelou-se, portanto.

Cavaco está em Belém e só quer que o Governo sobreviva.

O resumo de uma das semanas mais trágicas da política portuguesa contemporânea: um Governo em fim de linha, agonizando em todas as estações, largando portugueses em todos os apeadeiros.

Depois do sucedido, realmente assustador e preocupante, é haver tanta gente a achar que não conseguimos eleger um governo melhor.

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publicado às 23:40

LEITURAS

por David Areias, em 08.07.13
[ aos heróis do 08 de Julho de 1912 ]


Júlio Montalvão Machado
O Granjo
Chaves, 2010 (Ed. Autor)

"Por Portugal inteiro consagrou-se o triunfo final das forças republicanas e quanto ficou a dever-se ao apoio extraordinário dos civis. Perante muitos mais anónimos distinguiu-se o grupo extraordinário dos 'Defensores de Chaves', pouco mais de meia centena de republicanos, que há anos vinham contribuindo para a implantação da República e nessa data tinham lutado para consolidá-la. Honra igualmente ao valor dos militares comandados pelo capitão Maia Magalhães e major Ribeiro de Carvalho."

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publicado às 23:08

A GREVE

por David Areias, em 27.06.13
A aceitação da greve como direito, como forma de protesto e como argumento negocial dos trabalhadores já viu melhores dias. Parece-me que há duas atitudes fundamentais a contribuir para o seu enfraquecimento.

Um linha passiva, de descrença. Daqueles que, acreditando na greve como direito de qualquer trabalhador, deixaram de crer que a mesma produza algum efeito útil e aos poucos têm vindo a baixar os braços e a resignar-se com a incapacidade de produzir qualquer mudança. Seja com a greve, seja com qualquer outro tipo de protesto.

Um linha activa, de manso pudor. Daqueles que não acreditam verdadeiramente na greve como direito, por violar o velho princípio de "o país precisa é de quem trabalhe". Mesmo que o não assumam publicamente. Afinal, fica mal pôr em causa o direito à greve, haja pudor. Mansamente, esta linha revela a pragmática atitude de reafirmar sempre a existência do direito à greve, ignorando as reivindicações que suportam qualquer greve que seja feita, porque qualquer greve passa - "os trabalhadores têm direito à greve, mas...", "a greve é um direito constitucional que respeitamos, mas..."

Há vários factores a contribuírem para esta separação. A apropriação da linguagem dos direitos dos trabalhadores pela esquerda, conveniente quer à esquerda quer à direita. A postura de (pelo menos aparente) habitual intransigência e irrealismo das organizações sindicais. A ideia de que a greve não produz efeitos e a consequente ideia de que acaba por causar mais prejuízo colectivo do que benefício. A ideia de que a greve é algo reservado aos trabalhadores do Estado. A ideia de que a greve é algo reservado aos trabalhadores por conta de outrem. O cansaço de uns, a vingança de outros.

A consciência histórica dos direitos de quem trabalha é diminuta. Já ninguém sabe a origem, a justificação e o quanto se teve que lutar pelas oito horas de trabalho diário, pelo direito a uma retribuição digna, pelo direito a férias, pela proteção na maternidade e pela não discriminação em função do sexo.

Somos hoje uns parolos do capitalismo. Falamos em trabalhar mais sem pensar em compensar quem mais e melhor trabalha. Falamos em empreender sem levantar os obstáculos a quem quer criar o seu negócio. As desigualdades, o fosso entre ricos e pobres aumenta e aumentará. Até ao dia em que tivermos de reaprender os nossos direitos como trabalhadores. Porque todos somos trabalhadores.

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publicado às 13:00

LEITURAS

por David Areias, em 19.06.13
[ as duas faces do futebol ]


Franklin Foer
Como o Futebol Explica o Mundo
Palavra, 2006 (Edição Portuguesa)

"Quando Eurico Miranda integrou a direcção em 1975, aos trinta e poucos anos, era um homem de recursos limitados. Filho de um pasteleiro português, trabalhara como um vendedor numa sucursal da Volkswagen no Rio. Mas com o seu carisma, rapidamente trepou a hierarquia do Vasco pela politiquice. Mudou a sua vida. Adquiriu casas à beira-mar no Rio de Janeiro e um iate. Não se trata de uma história de fortuna adquirida pelo seu esforço. Por esta altura, a imprensa brasileira e uma investigação federal documentaram as infracções de Miranda. (...) 'É claro,' concluiu o senado, 'O Sr. Miranda desviou para as suas contas dinheiro que pertencia ao Vasco.' Miranda não dissimulara o seu rasto com grande cuidado. Não precisava. Desde que mantivesse o seu lugar no congresso, a imunidade parlamentar protegia-o da acção legal. Com o apoio dos muitos eleitores adeptos do Vasco, parecia que lhe era possível aguentar-se para sempre."

"Só o Camp Nou proporcionava aos catalães um sítio onde gritar e berrar contra o regime, no seu próprio, proibido, vernáculo. Manuel Vasquez Montalban, um dos grandes escritores contemporâneos de Espanha, publicou um romance sobre o Barça intitulado Offside. Descreveu o clube como 'a épica arma de um país sem Estado... As vitórias de El Barça eram como as de Atenas sobre Esparta."

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publicado às 23:00

LEITURAS

por David Areias, em 10.06.13

Manuel Alegre
O Canto e as Armas
Centelha, 1974

Raiz

"Canto a raiz do espaço na raiz
do tempo. E os passos por andar nos passos
caminhados. Começa o canto por onde começo
caminho onde caminhas passo a passo.
E braço a braço meço o espaço dos teus braços:
oitenta e nove mil quilómetros quadrados.
E um país por achar neste país."

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publicado às 12:03

CIM SENHOR EX-MINISTRO

por David Areias, em 10.06.13
Mesmo fora do Governo, Miguel Relvas continua ainda hoje a conseguir destacar-se como um ministro, além de comprometido, fraco, fraco, fraco.

Percebemos pelo seu discurso de despedida que nenhum dos seus feitos tem realmente que ver com a governação, mas apenas com trazer Paços Coelho à governação. Ainda assim, a reorganização do poder local teria ficado como um dos seus legados às gerações vindouras. A ambição não tinha paralelo, partia de um modelo de organização esgotado para uma reestruturação completa. Extinguiam-se governos civis, fundiam-se freguesias e criavam-se comunidades intermunicipais. Nunca mais o país seria o mesmo.

Parece que não.

Ter-se-ia agradecido a extinção dos governos civis, se fosse o começo de um processo maior e coerente de reorganização do território. Como acto isolado, não passa de exéquias fúnebres de instituições criadas com um prazo de validade há muito expirado.

Ter-se-ia agradecido a fusão de freguesias, se fosse o resultado de uma vontade das populações e se atingisse em especial as áreas urbanas. Entre as pressões da troika e dos autarcas, o que se logrou foi a extinção de freguesias rurais, ou seja, uma poupança ridícula e o abandono das populações mais vulneráveis do nosso território.

Ter-se-ia agradecido a criação das comunidades intermunicipais, não fosse mais um reflexo da completa desorientação quanto à forma de organização do poder entre os níveis local e central. Tal a desorientação que a reforma não escapou à atenção do Presidente da República (que é a que se sabe) e ao juízo de inconstitucionalidade unânime do Tribunal Constitucional (esses malvados).

De Miguel Relvas nada fica de bom. Felizmente, fica agora menos de mau.

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publicado às 11:55

LEITURAS

por David Areias, em 21.05.13
[ ridicularizar o preconceito e o ódio ]


Valter Hugo Mãe
O Filho de Mil Homens
Alfaguara, 2011

"Teria sido mais fácil se o tivessem castrado. Havia um anedotário infinito para que, sem deixar de ser terrível, o convívio entre as pessoas e o monstro fosse possível. Falavam dele efectivamente como de um ser aberrante com algum mistério e muito terror. Era como acreditar no lobisomem, nos vampiros ou num morto-vivo. Contavam piadas como se do cu de um maricas nascessem feras metidas tripas adentro a fazer ninho. Riam-se como se por ali, como por bocas dentadas, o cu dos maricas triturasse as cadeiras onde se sentava. Diziam que comiam esterco porque o mau gosto o fazia apreciar espeluncas e fossas. O Antonino, no anedotário ridículo da vizinhança, era fetal, putrefacto, morto. Quando se riam à boca cheia, com cervejas na mão e as panças inchadas de botões a rebentar, vingavam-se e era como se prometessem ser impiedosos da próxima vez que o rapaz cometesse um erro. Garantir que o rachavam a meio era quase como apostar entre si quem o faria e tomaria a glória de eliminar tal monstro. Riam-se. Diziam que o Antonino não se podia sentar porque lhe doía o cu. Também faziam a versão cor-de-rosa, na qual os homens maricas, por serem delicados, se adoçavam durante horas e enfeitavam com as penas dos pavões e depois respiravam só o perfume das flores para soltarem gases bem cheirosos. Diziam que lhes nascia veludo nas nádegas e tinham uma tabuleta a dizer pode entrar, como se fossem tão abertos que dentro do cu fizessem um salão de baile."

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publicado às 23:43

EXEMPLO GALEGO

por David Areias, em 14.05.13
As declarações políticas sobre a língua portuguesa e a sua importância no mundo são fáceis. E ficam sempre bem ao colo de algumas citações como "a minha pátria é a minha língua" de Bernardo Soares, ou como "da minha língua vê-se o mar" de Virgílio Ferreira. Mais difícil é encontrar declarações políticas que nesta matéria correspondam a uma vontade política que as transforme em estratégia e acções concretas.

Chega-nos da Galiza (de fora dirão alguns, de casa digo eu) um exemplo muito concreto de reconhecimento da importância da língua portuguesa no mundo e de acções que promovem o seu reforço. O Parlamento Galego aprovou hoje uma iniciativa legislativa popular, designada como Iniciativa Paz-Andrade em homenagem ao escritor galego cuja obra foi em 2012 assinalada pela Real Academia Galega no Dia das Letras Galegas.

A iniciativa consubstancia-se em quatro medidas muito concretas: primeiro, a inclusão do ensino da língua portuguesa em todos os níveis de escolaridade; segundo, a valorização do conhecimento da língua portuguesa nos concursos de acesso à função pública; terceiro, o fomento da participação do Governo Galego em todas as instituições da lusofonia; quarto, a garantia que as televisões e rádios portuguesas são transmitidas em toda a Galiza através da televisão digital terrestre.


Este sinal vindo da Galiza não pode deixar de ter uma resposta à altura da parte de Portugal, em especial de Trás-os-Montes, do Minho e do Porto, as únicas regiões que têm demostrado perceber a importância estratégica desta ligação. Seja através de organizações como o Eixo Atlântico, seja através de iniciativas como a Eurocidade Chaves - Verin.

Ocupamo-nos a discutir a necessidade de uma ligação ferroviária entre o Porto e Vigo, entretemo-nos a obrigar os veículos estrangeiros a pagar nas SCUT, convidando-os a não vir a Portugal. Entretanto, já a Galiza percebeu a importância que tem para si a língua portuguesa e a sua inclusão no espaço lusófono. Importância cultural e importância económica. Algo que ainda hoje desconfio que Portugal não percebeu verdadeiramente, entre os traumas do colonizador bonzinho e o estado de emergência que nos tem diminuído de forma envergonhada perante os capitais de Angola e do Brasil.

A isto não é indiferente o garrote centralista da nossa política e a falta de lideranças a norte. A Galiza não é um assunto político em Portugal. Devia sê-lo.

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publicado às 23:48

LEITURAS

por David Areias, em 07.05.13

Miguel Real
Nova Teoria do Mal
Dom Quixote, 2012

"Serei eu tão ingénuo que ainda possua capacidade de revolta para escrever um livro sobre os atropelos que Portugal tem sofrido enquanto os meus companheiros adultos dormem descansados aplicando os velhos preceitos nacionais, 'quem tem unhas, toca guitarra' (o oportunismo), 'em terra de cegos, quem tem olho é rei' (o espertismo), e 'quem vier a seguir, que feche a porta' (o indiferentismo) - três chagas morais que definem correctamente o consulado da geração política que se apossou de Portugal desde finais da década de 80. Hoje, sempre que vos apareça no ecrã da televisão um economista com funções governamentais - não duvideis: eis a face explícita do mal, aquele que levou a Europa à decadência e se prepara para, alegremente, destruir o planeta.'


Miguel Real
Nova Teoria da Felicidade
Dom Quixote, 2013

"Uma classe política enriquecida à custa de benesses e subsídios do Estado, presumindo-se americana, classificando arrogantemente o povo português de 'piegas', incentivando descaradamente a população jovem a emigrar, declarou guerra oficial ao bem comum e aos valores permanentes de Portugal, acentuando de um modo calamitoso desigualdades sociais, estendendo a mancha de pobreza para além dos dois milhões de habitantes. Uma classe política própria de um país do Terceiro Mundo, autênticos 'coronéis' brasileiros, dominando as máquinas partidárias regionais e nacionais. Com medidas draconianas, acima de toda a sensatez, esta classe política, dirigida por um Presidente da República que se encontra no activo há vinte e cinco anos, responsável por erradas opções desenvolvimentistas, enfatizando a construção e o consumo contra a formação e a produção (porventura o pior presidente desde a instauração da República em 1910), lançou a dissensão, o conflito e a perturbação entre a população, criou um clima de quase guerra civil, tornando Portugal um país onde medra o chico-espertismo, o oportunismo, o carreirismo e onde muito, muito dificilmente se consegue ser feliz, nem mesmo realizado. Com as medidas propostas e activadas pelo Governo, nem sequer se consegue atingir o primeiro e mais simples patamar da felicidade - a satisfação de uma vida simples."

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publicado às 23:08

LEITURAS

por David Areias, em 30.04.13

Bernardo Pires de Lima
A Cimeira das Lajes
Tinta da China, 2013

"Jorge Sampaio, por exemplo, considera que 'todo o contexto [decisão de Barroso e organização das Lajes] abonou em favor de tal escolha.' E, como recorda Martins da Cruz, 'as Lajes acabaram por ser importantes na carreira futura de Durão Barroso, porque, para a Estónia, Letónia, Roménia ou qualquer outro país do alargamento, Barroso era interlocutor dos grandes, logo tinha estatuto para ser presidente da Comissão.' A pergunta que fica é como é que se desbloqueou o apoio de Paris e Berlim? Para Ferro Rodrigues, 'a única explicação é que Chirac tinha a ideia de que ele seria um presidente fraco'. Já Martins da Cruz recorda que o 'processo é tradicionalmente assim, aliás como é que com a corrida a secretário-geral da NATO: uma eliminação sucessiva de candidatos, até que fica um só nome no final. E nisso Durão Barroso é um típico português: resiste, resiste e resiste. Nunca corre os cem metros, corre sempre a maratona. Mas chega sempre ao fim."

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publicado às 23:39

LEITURAS

por David Areias, em 25.04.13

Luciano Violante
Politica e Menzogna
Giulio Einaudi Editore, 2013

"Quem exerce um poder político deve saber que os cidadãos têm direito de questionar as razões das escolhas no exercício das suas responsabilidades e que ele tem o dever de fornecer as explicações pedidas. Este é um ponto crítico da democracia italiana porque no nosso costume prevaleceu durante longuíssimo tempo a tolerância para com os comportamentos impróprios dos políticos; apenas se pedia a conta quando um político se encontrava em dificuldades e o pedido equivalia a uma condenação sumária: valham-nos os casos de Bertino Craxi e de Silvio Berlusconi. A antiga tolerância transforma-se em rancor e o rancor transforma-se em comportamentos demagógicos, que não distinguem mais entre responsáveis e inocentes e consequentemente, como num pogrom, condenam não os comportamentos mas o estatuto.

Tem-se definido este comportamento como 'indignação', mas de facto o termo é impróprio porque na história a indignação gerou, além do repúdio dos comportamentos incivilizados e dos seus autores, seja mobilização colectiva, seja atenção sobre as vítimas, seja empenho na mudança. Ao invés, em Itália manifestam-se cada vez mais outros sentimentos: desprezo pelos outros e orgulho em si próprio, como ressentimento. O indignado critica e mobiliza-se, o ressentido despreza e fecha-se em si mesmo. O indignado revolta-se contra aqueles que cometeram os abusos; o ressentido volta-lhes as costas. Os limites são certamente subtis e os dois sentimentos podem conviver. Mas é preciso não confundí-los. A indignação é um sentimento prevalentemente positivo porque é projectado para a mudança. Pelo contrário, o ressentimento leva ao insulto, ao turpilóquio, a um sentido de absoluta superioridade no confronto com os 'outros', considerados incapazes e inferiores. O indignado, pelo contrário, tem uma determinada política, favorece uma política diversa; traz consigo uma componente racional porque reconhece a complexidade dos problemas. Ao invés, o ressentido revolta-se contra a política, porque entende que os problemas são simples mas tornam-se complexos pela corrupção e incapacidade dos políticos. Não faltam forças políticas, homens de cultura, meios de comunicação que, por superficialidade ou para se colocar no espírito do tempo, adulam o ressentimento não o distinguindo da indignação.

Não é este o caminho."

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publicado às 19:19

LEITURAS - DIA MUNDIAL DO LIVRO

por David Areias, em 24.04.13

Manuel Moya
Cinzas de Abril
Sextante Editora, 2012

"Não era raro ser abordado na rua por alguém que queira discutir qualquer tema político, económico ou cultural que naquele momento lhe estivesse a dar voltas na cabeça. A cidade pensava e sonhava em voz alta, e era preciso estar muito muito surdo para não ouvir o eco dos seus sonhos."

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publicado às 01:01

DEMOCRACIA PARTICIPATIVA, QUER QUEIRAM QUER NÃO

por David Areias, em 16.04.13
No início de Fevereiro deste ano, foi entregue no Congresso espanhol uma iniciativa legislativa popular assinada por mais de um milhão e quatrocentas mil pessoas. O número extraordinário de subscritores deve-se muito à extraordinária dimensão do problema: os despejos, às centenas por dia. A iniciativa propõe a paralisação de todos os despejos, a dação dos imóveis em pagamento dos créditos à habitação (com efeito retroactivos) e a promoção do arrendamento social.

Os promotores da iniciativa são então confrontados com um primeiro problema: garantir que a iniciativa é admitida a discussão no Congresso, depois de o PP, partido maioritário, anunciar o seu voto contra. Protestos dentro e fora do Congresso e a notícia de mais um casal que se suicidara nas vésperas de um despejo terão levado a uma inversão da posição dos Populares na própria tarde da votação. Desse dia 12 de Fevereiro, apesar da aprovação unânime, fica o forte contraste: no hemiciclo, o Presidente pede de viva voz "¡Procedan a la expulsión, coño!"; lá fora gritam os manifestantes "¡Si se puede!"


Admitida a proposta a discussão, resta ainda garantir a sua aprovação. Sabendo da sua posição desfavorável, os promotores da iniciativa resolveram avançar para o "escrache" de todos os deputados do PP. Significa isto que grupos de manifestantes se dirigem à residência de cada um dos deputados (ou a outro local onde os possam encontrar) para, de forma pacífica, tentarem ser ouvidos e levar a uma alteração no sentido de voto. Até agora, tem acontecido de tudo um pouco. Desde deputados que se manifestaram surpreendidos pela forma positiva como foram abordados, até situações com alguma violência com as forças policiais e acusações de coacção sobre deputados e as suas famílias.


Apesar de parecerem recolher uma aprovação largamente maioritária em Espanha, mesmo entre os eleitores do PP, a liderança deste partido (e alguma imprensa próxima) tem reagido de forma violenta, apelidando estes actos de "nazismo puro". Cavam assim mais fundo o desentendimento entre o Governo e os cidadãos, que vivem com a ideia de que há sempre recursos para apoiar a banca, mas nunca os cidadãos em situações de maior dificuldade. Entretanto, o descrédito é de tal forma notório que o próprio PP anunciou ontem a criação de uma comissão para debater a melhoria das formas de participação democrática, as listas abertas às eleições e um estatuto para os lobbys.

O que está na origem dos "escraches" são duas perguntas muito simples: de que vale o direito de expressão e de iniciativa legislativa popular se ninguém nos ouve realmente? como nos podemos fazer ouvir sem que possamos ser ignorados? Este debate precisa de ser feito também em Portugal. Quer queiram quer não, a bem ou mal, a democracia tem que se tornar mais participativa.

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publicado às 23:52

LEITURAS

por David Areias, em 08.04.13
Tenho neste espaço partilhado pequenos excertos de obras que, não só pelo que julgo ser o seu mérito literário, merecem a sua leitura numa perspectiva política. Ou de cidadania como se soe dizer para evitar que achem que estamos a falar de política.

A palavra é a mais nobre forma de intervenção política. Aqueles que as escrevem têm por isso particular responsabilidade no seu uso. Na sua crónica "O sexo dos anjos", na Ler do último mês de Março, Eduardo Pitta manifesta a sua preocupação quanto a esse uso ou não uso pela nova geração de escritores:

"Vem isto a propósito da aparente abulia política dos novos ficcionistas. Estou a pensar em Rui Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, Alexandre Andrade, Valter Hugo Mãe, Rui Herbon, Rui Manuel Amaral, Jacinto Lucas Pires, José Luís Peixoto, Sandro William Junqueira e David Machado, autores nascidos entre 1967 e 1978. (...) Estou a falar de autores premiados e traduzidos, não estou a falar de meninos de coro.

Gostava de saber o que pensam da falácia europeia, do desemprego sem freio, do empobrecimento geral, dos direitos das minorias, do arbítrio das agências de notação financeira, do diktat da Goldman Sachs, enfim, do retrocesso que tudo isto representa."

Embora possam e devam contribuir mais, creio que essa abulia é de facto aparente e que esta geração escritores, de forma crescente, tem vindo a terreiro dizer o que pensa sobre o momento que vivemos, dando o seu contributo de uma forma mais clara e afirmativa. Disso darei conta em próximas publicações.

Entretanto, o que hoje proponho é a leitura de uma outra geração e dos escritores que tiveram a coragem de se erguer contra a ditadura e com os quais muito temos a aprender. Por eles, Adolfo Casais Monteiro.


Adolfo Casais Monteiro
O País do Absurdo - Textos Políticos
(1 Edição de 1974)
IN-CM, 2007

"Há quem se escandalize pelo facto de haver no Brasil intelectuais portugueses que não se restringem às respectivas áreas de "especialidade", e que, sendo professores, não se limitam a ensinar, sendo poetas, não se limitam a fazer versos, sendo pintores, não se limitam a pintar... etc. É que esses intelectuais são também "especialistas" de outra coisa, se me permitem a ironia: têm a especialidade de ser cidadãos conscientes."

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publicado às 23:30

LEITURAS

por David Areias, em 03.04.13

Jorge Amado
Seara Vermelha
(1. Edição de 1946)
Dom Quixote, 2004

"Quando partia pelas manhãs para a roça, a foice ao ombro, era como um escravo que levasse cadeias aos pés. Aquela terra não era deles, não lhes pertencia, e mesmo o seu direito sobre as plantações de mandioca e milho poderia ser discutido pelo coronel a qualquer momento. O dia de trabalho gratuito para a fazenda parecia-lhe demasiada exploração. Não bastava a obrigação de vender os produtos da roça ao coronel, pelo preço que ele fixasse, e ter de comprar no armazém tudo de que necessitassem? Ouvia histórias de tomada de terra, de crimes, camponeses matando fazendeiros, fugindo pelos matos, outros condenados a largar penas, indo para Fernando de Noronha. Uma sede de vingança e de justića foi o que o impulsionou. Lucas Arvoredo, com seu bando de jagunços, parecia-lhe o destemido vingador da gente sertaneja. A razão estava com ele. Se haviam de trabalhar dia e noite para uma fazenda, nascer e morrer em cima da enxada, sem nenhuma perspectiva, então nada restava a não ser largar tudo, tomar uma repetição, e ir cobrar nas fazendas e nas cidades o que - segundo Nenen - lhes era devido."

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publicado às 00:17

LEITURAS - DIA MUNDIAL DA POESIA

por David Areias, em 21.03.13

Hélia Correia
A Terceira Miséria
Relógio D'Água, 2012

" A terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda. E, ao contrário
Do orgulhoso Péricles, se torna
Num entre os mais, num entre os que se entregam,
Nos que vão misturar-se como um líquido
Num líquido maior, perdida a forma,
Desfeita em pó estátua.

(...)

De que armas disporemos, senão destas
Que estão dentro do nosso corpo: o pensamento,
A ideia de polis, resgatada
De um grande abuso, uma noção de casa
E de hospitalidade e de barulho
Atrás do qual vem o poema, atrás
Do qual virá a colecção dos feitos
E defeitos humanos, um início."

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publicado às 00:03

LEITURAS

por David Areias, em 18.03.13

Nicholas Dunbar
The Devil's Derivatives
Harvard Business Review Press, 2011

"Back in the 1980s, Fed chairman Paul Volcker decided banks needed a 'speed limit' to curb their risky lending practices, but the large, sophisticated banks created collateralized loan obligations (CLOs) to evade the new rules. Volcker's successor, Alan Greenspan, argued that regulators should not impede the investment innovations, and in 1998, new rules loosened the restraints on the big banks. It was soon obvious, however, that regulators didn't have the skills or power to prevent banks from abusing the system. Given a last chance to tighten the rules in 2005, they blew it."

"After the banking crisis was tamped down, and the markets were swamped by newly printed money, the next challenge came not from the financial sector, but from a spendthrift nation on Europe's fringe: Greece, a country that for a decade had fiddled the books in plain sight, with the eager assistance of investment banks. In July 2003, my account of Goldman Sachs's use of swaps to help the Greek government conceal some $3 billion of its debt languished in the pages of an industry trade magazine. The head of Greece's debt management office wrote a huffy letter to the editor who had published my article, insisting that the transaction was 'based on prudent debt management rather than accounting concerns,' and concluding, 'It is hard to see why this merits chover-story treatment."

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publicado às 22:44

CORRUPÇÃO SEM CORRUPTOS, DEMOCRACIA SEM JUSTIÇA

por David Areias, em 18.03.13
Vivemos um fenómeno estranho em Portugal Há corrupção, mas não há corruptos. Os negócios mal explicados e suspeitos sucedem-se em todos os níveis do Estado, sendo que a justiça criminal parece não produzir resultados na sua detecção e na sua punição e o poder político parece não mostrar qualquer interesse sério em corrigir essa situação.

Este fenómeno conduz a duas reacções de sentido oposto.

Por um lado, uma reacção popular contra a massa indistinta composta por "eles, os políticos". Se a justiça não funciona é porque eles não querem, eles não deixam, eles estão entalados, eles são todos corruptos e vivem à nossa custa. Na cabeça de cada cidadão instala-se com forte convicção a imagem da porca de Bordalo Pinheiro. Trata-se de uma reacção natural, perante a evidente falta de funcionamento da justiça a este nível. A absolvição de Valentim Loureiro no processo dos terrenos da Quinta do Ambrósio é só mais um episódio de condenação pública e absolvição judicial.


Por outro lado, uma reacção partidocrática, que recusa as condenações em praça pública, que não se pronuncia publicamente sobre investigações criminais, que facilmente deriva para a indignação por tentativas de assassinato e linchamento políticos, que se esconde envergonhada perante a evidência de uma situação de corrupção entre os seus. As quase quase condenações de Isaltino Morais e de Macário Correia espelham bem essa postura.

Estas reacções acentuam fortemente a distância entre os cidadãos e a actividade política. São muitos os cidadãos que se afastam da actividade política apenas porque não querem ser confundidos com políticos, numa atitude que gera ainda mais afastamento. Pior, acaba por permitir a construção de facto de uma classe política profissional e medíocre, incomodada com a participação activa dos cidadãos na política e nos "seus" partidos. Mais, incomodada com a livre discussão e natural divergência de opinião nos "seus" partidos.

Este ciclo tem que ser quebrado de forma urgente. Também por um maior esforço de participação de todos os cidadãos. Mas principalmente por iniciativa dos partidos, se não quiserem com justiça ser confundidos com os leitões de Bordalo Pinheiro. E não se aceita qualquer desculpa com a dificuldade em conseguir cativar os cidadãos de volta. O desafio e a missão dos partidos é precisamente a de os chamar e de lhes dar o primeiro espaço de participação aberta e livre na actividade política.

Voltaremos a este assunto. Entretanto, deixamos uma ilustração clara de uma das consequências possíveis deste fenómeno: a iniciativa "Marginaliza o Corrupto" (http://marginaalcorrupto.blogspot.pt/) como forma de acção directa contra a corrupção.

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publicado às 22:23

TV RURAL

por David Areias, em 12.03.13
A Assembleia da República aprovou recentemente uma recomendação ao Governo no sentido de que seja criado um programa semanal em canal aberto dedicado à agricultura e às pescas. Simplificando, um novo TV Rural.

Não escrevo sobre a eventual forma de ingerência inadmissível na programação da televisão pública. Muito menos sobre a eventual melancolia do país rural, pobrezinho e feliz que o Estado Novo tão bem calcou no fundo do nosso espírito colectivo. Resisto a explicar que o Porto Canal há muito produz e emite o programa "Terra", dedicado à agricultura. Sou incapaz de efectuar qualquer comparação com a forma como foi terminado o programa "Acontece" na RTP2. Adiante.

O que me intriga verdadeiramente é o objectivo do novo TV Rural, atendendo a que se trata de uma medida isolada de qualquer projecto para a agricultura e pescas.


O que faz o Estado quanto à perda de população no meio rural?

Fecha serviços, dando o primeiro sinal de desistência quanto a parte do seu próprio território. Saúde, educação, administração e justiça, nada resiste, nada fica. Mas tudo se optimiza para prestar um melhor serviço às populações.

O que faz o Estado quanto à pequena produção agrícola de contexto familiar?

Cria mais obrigações sanitárias e tributárias, inviabilizando a comercialização legal dos excedentes da economia familiar. Mas (cria-se o medo e) protege-se o consumidor da falta de controlo sanitário, para que se alimente com segurança e confiança nos melhores hipermercados.

O que faz o Estado quanto à distribuição de produtos agrícolas nacionais?

Deixa-as sem qualquer protecção perante o abuso de posição das grandes cadeias de distribuição alimentar. Mas promove-se o desenvolvimento de empresas mais fortes pelo processo natural da concorrência num mercado livre.

O rosário continua e só consigo por agora concluir que o TV Rural tem como objectivo único o entretenimento televisivo e político. Entretanto, pode ser que traga para a agricultura tanto sucesso quantas estrelas Michelin o Master Chef trouxe para os nossos restaurantes.

Despeço-me, com amizade, até à próxima publicação.

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publicado às 12:07

DESAHUCIO

por David Areias, em 05.03.13
"1. Quitar a alguien toda esperanza de conseguir lo que desea.
2. Dicho de un médico: Admitir que un enfermo no tiene posibilidad de curación.
3. Dicho de un dueño o de un arrendador: Despedir al inquilino o arrendatario mediante una acción legal."

É difícil compreender a verdadeira dimensão que tomaram em Espanha os despejos por falta de pagamento do empréstimo para aquisição de habitação. No ano de 2012, mais de quinhentos despejos foram realizados diariamente. Quinhentos despejos por dia. Quinhentos despejos por dia.

O perfil dos despejados não é fácil de traçar. Certo é que não coincide com a imagem do cidadão que irresponsavelmente viveu acima das suas possibilidades. Aquela imagem do cidadão culpado da crise que tão convenientemente tem sido transmitida. Como se mais ninguém tivesse qualquer responsabilidade.

Sobre este assunto, vale a pena ouvir a excelente reportagem da TSF em Madrid À Porta da Rua (http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=917979&audio_id=2998910).


De forma crescente, Espanha é um país de famílias sem casa e de casas sem famílias. Casas que não se vendem nem se arrendam. Fruto da especulação imobiliária que durante anos suportou o crescimento da economia e que fez do país um dos maiores consumidores de cimento do mundo. Fruto das centenas de milhares de despejos que desde 2007 colocaram mais de um milhão de pessoas na rua. Um milhão de pessoas na rua. Um milhão de pessoas na rua.

É difícil aceitar que um problema com esta dimensão não tenha tido ainda um tratamento político à altura. Porque a legislação espanhola aprovada em 2012 para atacar o problema acode a um número muito limitado de pessoas, tal a exigência de miséria dos seus requisitos. Porque o maior dos executores hipotecários, o Bankia, foi resgatado pelo dinheiro dos mesmos contribuintes que despeja das suas casas sem que tente renegociar créditos.

Nada é justo nesta situação. Ninguém resgata as famílias. Teremos que encontrar respostas novas entre o extremismo dos que defendem a ocupação sem regra das casas vazias e o extremismo dos que defendem que as casas se mantenham vazias e fechadas.

No imediato, seja em Espanha, seja em Portugal, essa resposta passa certamente por processos de insolvência mais flexíveis e com mais mecanismos que permitam a renegociação e o perdão de parte da dívida das famílias em maiores problemas. Isto, sob pena de para sempre as mantermos em situação de exclusão, sem ter a casa própria que até ao fim dos seus dias continuarão a pagar. Para sempre em exclusão. Para sempre em exclusão.

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publicado às 23:49

Leituras

por David Areias, em 27.02.13

Rui Zink
A Instalação do Medo
Teodolito, 2012


"- A senhora sabe o que dizia o capitão do navio negreiro aos escravos no porão quando estes se queixavam de sede e fome?
- Exactamente, minha senhora.
- 'Nada de queixumes. Estamos todos no mesmo barco.'
- E era a mais pura verdade.
- Só que os escravos, já se sabe, só viam o ponto de vista deles.
- Há gente muito egoísta.
- Por isso, precisamente, para lutar contra o egoísmo, há que instalar o medo.
- E é assim mesmo, minha senhora. O medo, quando bem instalado...
- Tem é que ser bem instalado...
- O medo, bem instalado, substitui as Más Perguntas pelas Boas Respostas.
- Ao infantilizar-nos, minha senhora, o medo não nos diminui, antes nos eleva.
- O medo devolve-nos a infância do mundo."

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publicado às 21:58

Linguagem Filibusteira

por David Areias, em 25.02.13
Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo

Jorge de Sena


Há uma linguagem que nos prende. Aparentemente inteligente e cheia de significado, cujo uso rapidamente se generaliza, não chega a ser questionada. Uma linguagem trazida para o discurso político que ora parece ter origem nos mais altos estudos técnicos (as reformas estruturais, os modelos de desenvolvimento, as posições economicistas...), ora nas mais inopinadas metáforas (o peso do Estado e as suas gorduras, qual suíno). Uma linguagem remissiva, que se autoriza em estudos, pareceres, memorandos, auditorias, relatórios.

Por norma, o recurso a essa linguagem serve apenas um propósito: aparentar um alto nível discursivo e argumentativo, quando na realidade nada se discute e se impede a discussão.

O que se diz na realidade quando, por exemplo, se diz que a justiça precisa de uma reforma estrutural? Se se quer apenas dizer que é preciso corrigir o que está errado, não há quem discorde. Mas porque não se fala então naquilo que está errado? De forma inocente, por desconhecimento. De forma culposa, para esconder o que realmente se pretende dizer e reformar.

Trata-se do esvaziamento das palavras políticas, que infectou conceitos e ideias que julgávamos ter firmes no espírito colectivo. Serviço nacional de saúde universal, ensino básico universal, obrigatório e gratuito. Estado social. Subordinação do poder económico ao poder político democrático. Igualdade. Democracia.

Tudo se transforma, enfim, numa linguagem filibusteira. Atrapalha, cansa, impede a discussão. É preciso recuperar as palavras.

É preciso reencontrar as perguntas certas, as mais simples, ainda que de resposta difícil: são verdadeiros os pressupostos de decisão política? a decisão política é a mais justa?

Afinal, com que armas discutiremos e lutaremos quando esvaziarmos as palavras?

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publicado às 09:14





Filibuster, subs.

1. Utilização de tácticas de obstrução, tais como o uso prolongado da palavra, por membros de uma assembleia legislativa de forma a impedir a adopção de medidas ou a forçar uma decisão, através de meios que não violam tecnicamente os procedimentos devidos;

Filibuster, noun
1. The use of obstructive tactics, such as prolonged speaking, by a member of a legislative assembly to prevent the adoption of measure or to force a decision, in a way that does not technically contravene the required procedures;

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